terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Sic transit gloria choldra*

" (…) [O Estatuto Político-Administrativo dos Açores] restringe, por lei ordinária, o exercício dos poderes do Presidente da República previstos na Constituição (…)"

"Trata-se de uma solução absurda" [que] "não mais poderá ser corrigida pelos deputados" [que assim ficam] "hipotecados para sempre".

" (…) abala o equilíbrio de poderes e afecta o normal funcionamento das instituições da República".

"Está em causa uma questão de lealdade no relacionamento entre órgãos de soberania"

"O que está em causa é o superior interesse do Estado português."

"A ser assim, a qualidade da nossa democracia sofreu um sério revés."

"Ninguém poderá dizer que não fiz tudo para impedir que interesses partidários de ocasião se sobrepusessem aos superiores interesses nacionais."

Cavaco Silva, Presidente da República Portuguesa

Ao que parece, este autêntico cardápio de pérolas republicanas, não foi, ainda assim, suficiente para que alguma medida fosse tomada. Não! Promulga-se algo que se julga catastrófico, apenas em nome da estabilidade e do superior interesse do próprio em conservar o seu cargo. "Convicções para o lixo", poderia ser o subtítulo desta espantosa comunicação à Nação feita pelo Presidente da República. O seráfico Professor Cavaco faz lembrar uma daquelas senhoras que, apesar da cara amassada, do braço partido e dos queixumes sobre o comportamento violento do marido, nada faz, nada muda, nada separa. Come e cala, em bom português!

Por infinitamente menos do que isto o Dr. Sampaio dissolveu a Assembleia da República, por "perigo para as instituições". O Professor Cavaco prefere ver a casa a arder e chorar e espernear e gritar "Eu bem disse! Eu bem disse!"

Por infinitamente menos do que isto, o Grão-duque do Luxemburgo recusou recentemente a promulgação de uma lei da eutanásia, que atentando contra as suas convicções, crê atentar igualmente contra os superiores interesses da Nação.

Por infinitamente menos do que isto, muitas cabeças rolaram noutros tempos, metafórica e não tão metaforicamente!

Contudo, no momento pátrio actual, chora-se, esperneia-se, lamenta-se, discursa-se, indigna-se… e mete-se a cabeça na manjedoura! Como aqui se diz, ao que isto chegou! Ao que isto chegou!


* Corre por aí um boato de que o Sr. D. Carlos I trataria a sua amada pátria por "a choldra"... Sendo isto absolutamente infundado e falso, é falso também que a tão amada pátria fosse, nessa altura, uma choldra. Já no momento actual, choldra é um termo carinhoso para o lugar onde chegámos. Carinhoso e demasiado honroso!

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