terça-feira, 5 de maio de 2009

Por São Nuno! *

A Igreja Católica Romana tem um novo Santo: São Nuno de Santa Maria (Nuno Álvares Pereira, o Condestável, de sua graça civil). Alegremo-nos! Aleluia! Aleluia!



Desde sempre esta figura esteve presente por . A figura do Condestável do Reino era uma figura amada pelos meus. Uma figura admirada. Tendo nascido aqui próximo, em Cernache do Bonjardim, sempre que lá nos deslocávamos encontrávamos a sua estátua e sempre me lembro de haver alguma referência à sua figura e à sua naturalidade beirã (mais a mais a estátua fica mesmo ao lado da casa de uma prima que visitávamos). Para mais, uma das freguesias que deu origem ao concelho de Ferreira do Zêzere – Águas Belas – foi um morgadio do irmão de D. Nuno e permaneceu na família Pereira até quase ao final do Antigo Regime (um descendente, Duarte Sodré Pereira, seria também Morgado de Águas Belas e estaria na origem de um dos lugares mais conhecidos da capital – o Cais do Sodré), e ainda hoje, diariamente passo junto ao antigo pelourinho que ostenta as armas dessa nobre família. À qual muito devemos, nós, portugueses!


A figura de D. Nuno é admirável. Homem de fé arrebatadora e profunda, combatente vitorioso (mas justo para com os seus inimigos, como ouvi algures, "combatendo sem ódio"), génio militar e político (não terá perdido uma única batalha), herói maior do panteão dos heróis portugueses, ascendeu pelo seu valor, pelo seu mérito, à mais alta posição na nobreza de então. Não é por acaso, certamente, que a sua filha está na origem da mais importante casa da nobreza portuguesa – a Casa de Bragança. Com ele, Portugal iniciou um dos seus períodos mais fantásticos, mais grandiosos, mais admiráveis. Há até quem o veja como sendo o pai do patriotismo, da própria noção de ser português. O que é certo é que, com ele, Portugal separou-se definitivamente de Castela. Sem retorno nem volta a dar-lhe. Nesse sentido é engraçado verificar que ele santificou Portugal (na origem e no sentido de "santo" está a "separação", o viver "separado", ou seja, o santo é o separado). Depois, quando tinha todas as honras e riquezas, fez partilhas com os filhos, desfez-se de tudo o que era seu, deixou a alta posição que ocupava e dedicou-se aos pobres, aos humilhados, aos indigentes. A eles doou os bens e o tempo. Foi um caso raro, ou seja, um caso santo. E fê-lo não tendo sequer professado religiosamente por não se considerar suficientemente digno para ser frade. Fê-lo fazendo os votos, mas não professando. Dando-se por inteiro – pondo-se por inteiro, como diria Ricardo Reis – aos outros, entregando-se, como o fez em tudo o que fez na vida. Ensinou-nos a todos que a vida é para ser vivida intensa e honradamente. Para ser vivida por inteiro, por completo, tomando partido sempre que isso seja necessário! Em tempos de politicamente correcto, indefinições, neutralidades e outras formas de abstenção, o exemplo de São Nuno de Santa Maria é cada vez mais vivo e mais actual – compromete-te sempre e fá-lo sem esquecer os teus irmãos que sofrem, poderia ser um lema a retirar dos seus ensinamentos! E já é tanto e às vezes tão difícil!...




* Citação do antigo grito de guerra português – Por São Jorge! – agora homenageando a figura de São Nuno de Santa Maria, conhecido entre os homens por D. Nuno Álvares Pereira, Condestável do Reino de Portugal, Defensor do Mestre de Aviz.

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