terça-feira, 31 de março de 2009

Le temps des cerises et des roses

Je te propose
Le temps des cerises et des roses
Le temps des caresses soyeuses
Laissons du temps à la douceur des choses

Et si ça te tente
Prenons le temps de faire silence
D'emmêler nos souffles et nos langues
Prenons du temps pour les choses d'importance

Et laissons nous renverser emporter caresser
par le temps perdu
Restons tranquilles immobiles sans un bruissement d'ailes,
sans un battement de cils

Et contre l'implacable
Contre le vacarme du diable
Trouvons du temps pour l'impossible
Pour l'inespéré pour l'imprévisible

Et contre l'éphémère
Contre la cruauté première
Contre le marbre de nos tombes
Prenons tout notre temps à chaque seconde

Et laissons nous renverser emporter caresser
par le doux temps perdu
Nos vies s'allongent et soudain les voilà dans nos mains
Toutes vives toutes chaudes toutes nues

Je te propose
De retrouver le temps des roses
Le temps des caresses soyeuses
Laissons du temps à la douceur des choses

Oui je te propose
De retrouver le temps des roses
Le temps des caresses soyeuses
Prenons du temps pour la douceur des choses.
Carla Bruni
(Le temps perdu)


Le temps perdu - Carla Bruni

Fitas

Gosto de palavras. Gosto das palavras. De lhes sentir os gostos, os aromas, os sentidos. Gosto de as tornear e de as ouvir falar. De as sentir arder na língua, de as deixar ir com a brisa que vem das sereias. Gosto de lhes perscrutar os segredos correndo atrás delas no jogo da cabra-cega, de lhes remexer nos baús, de deixá-las nuas e impuras. Uma palavra nua, saída de si, é das coisas mais enigmáticas, mas arrebatadoras que conheço. O seu poder é absoluto. É o jogo da fala e do silêncio. É o jogo do sentido e do dito.

Hoje saio delas. Dispo-as de mim, como se de uma pele supérflua se tratasse, como se fosse possível estar, algum dia, verdadeiramente fora delas. Ausente. Sem palavras que sequer formem o pensamento. Eu comigo absolutamente só, sem sequer dizer "- ". Faço-o com o sorriso da alegria pelo galardão que, hoje, o D. atribuiu a esta Khôra. Em boa verdade vos digo que o galardão foi atribuído a todos aqueles que o D. segue e a todos os outros que se julguem merecedores da distinção agora atribuída. Mas isso não interessa um chavelho: um prémio é um prémio (e eu gosto de ser premiado, nem que seja a feijões! No tempo em que se jogava a feijões…), e eu estou feliz por ter sido – também – contemplado!


E porque o D. nos tem andado a desencaminhar para que nos apresentemos, em carne e osso, ecce homo!


E obrigado. (Simplesmente) Obrigado!




P.S. Para a comemoração esta Khôra abre as suas fitas para nelas acolher o galardão.

domingo, 29 de março de 2009

Dicionário do Eu I

Vejo-me como tradicionalista-modernista! Tradicionalista, porque defensor da Tradição, do Cânone, como ponto de partida, de assentamento, de fundação de tudo o que se construir. Acredito que sem uma forte noção de tempo, de passado, sem um conhecimento aprofundado desse mesmo passado, da História, das tradições, não há futuro, não há progresso, não há sabedoria. Acho que só assim poderemos procurar evitar os erros já cometidos, só assim podemos carregar a herança que nos foi legada, só assim transmitimos aos vindouros o que nos foi ensinado – e é nisso que residem as Nações, os Povos, as Culturas, as Religiões. Mas essa transmissão, esse respeito pela tradição, nunca pode ser uma mera conservação em formol. Não. Isso é a morte da tradição. A tradição, tal como a religião (e o Catolicismo é óptimo para perceber isso!), tem de reinventar-se a cada momento, a cada gesto, a cada repetição. No espírito daquele velho provérbio que diz: quem conta um conto acrescenta um ponto.

E modernista no espírito dos Modernistas de início do século XX. Tenho uma crença e um fascínio, totalmente infundados no futuro, nesse futuro enraizado na tradição. Fascinam-me as coisas novas, o novum, o advento. Sou um curioso das máquinas, apesar de nada perceber delas; mas gosto das novidades, da novidade, do que vem do que chega, do que está-a-vir… Partilho alguma da crença no progresso, nos avanços da civilização (como então se dizia), mas sem tentações positivistas ou cientistas (que aliás abomino particularmente). Talvez, isso, explique porque sou ritualista; e isto no sentido de gostar de rituais (por exemplo, religiosamente, quanto mais ritualizada for uma cerimónia, mais ela me encanta), de precisar de rituais e da ligação que eles estabelecem. Porque é bom saber que o rio continua a correr para além de nós, que o tempo não pára por nossa causa, e que a nós cabe o lugar único de receber e transmitir o legado. O futuro é só o herdeiro da tradição.

©Guilherme Santa-Rita, Cabeça, 1910

sábado, 28 de março de 2009

Coches

Há coisas que me espantam pelo alarde que levantam ou que não levantam. E mais espantado fico quando constato que acabo por não concordar com nenhuma das partes antagonizantes. Anda aí - em certos círculos claro, que as "massas" têm outras preocupações - um sururu imenso à conta do projecto para o novo Museu Nacional dos Coches (MNC). Uns são a favor e pronto, havendo muitos destes que pretenderiam associar a inauguração do novo museu às """«comemorações»""" do Centenário da Implantação da República. Outros são contra, porque querem manter o actual espaço do museu no Real Picadeiro de Belém, porque acham que um país mergulhado na crise não pode gastar 31,5 milhões de euros num novo edifício, porque estão (igualmente) contra uma possível transferência do Museu Nacional de Arqueologia, do Mosteiro dos Jerónimos para a Cordoaria Nacional, e porque alguns acham que a associação do MNC às comemorações do centenário da República é uma clara afronta à memória da sua fundadora, a Sra. D Amélia de Orléans e Bragança, penúltima Rainha de Portugal, e última a "exercer funções" em solo nacional.

Ora eu, como já disse, discordo de ambas as posições. Começando pelo mais simples, é evidentemente uma afronta e um ultraje à memória e à figura ímpar da Rainha D. Amélia que uma das suas mais graciosas dádivas seja associada à infame (e cada vez mais decrépita) República. Em primeiro lugar porque o MNC não foi criado apenas ao tempo da Rainha, tendo existido de qualquer forma sem o contributo dela. Aí talvez fosse aceitável. Não. O MNC foi uma criação da Rainha, uma dádiva impagável da Rainha à cultura portuguesa, salvando da destruição e da ruína a fabulosa colecção que logrou conseguir e reunir, a começar pelos coches da Casa Real. Foi Sua Majestade que imaginou aquele que é o museu de maior prestígio em Portugal, o mais visitado, e um dos poucos a albergar uma colecção ímpar o mundo. Pretender esquecê-lo, escondê-lo, apagá-lo, desvalorizá-lo ou associá-lo a um dos mais nefastos acontecimentos da vida da Rainha (e, eu acrescentaria, da vida de Portugal) é, no mínimo uma imbecilidade, no máximo um ultraje, uma ofensa gravíssima (mais uma a quem deu tudo o que alguém pode dar por uma pátria!), um acto desprezível e desonrado (mas isso, infelizmente, é apanágio de muitos por ). Com um mínimo de vergonha na cara e respeito por quem sempre o mereceu, deveriam sim atribuir o nome da Rainha ao MNC, e aí, talvez, começassem a repor a verdade e a pagar (à Sua memória, já se sabe) o muito que lhe ficaram devendo (e ficámos todos, enquanto Povo e Nação).


Quanto ao espaço do actual museu, o Real Picadeiro de Belém, não me parece que haja uma ligação suficientemente forte para manter o museu naquele espaço. Ou melhor: é verdade que foi lá que a Rainha D. Amélia o instalou, mas isso, parece-me, porque a Rainha havia habitado o Palácio de Belém, conhecia bem o espaço, sabia-o disponível e subaproveitado, e portanto remediou-se a situação (haverá palavra mais portuguesa do que remediou-se…) aí instalando o museu. Mais: em bom rigor, apenas parte do MNC aí se encontra. A restante colecção (onde se destaca, por exemplo, a "carruagem do Regicídio" na qual D. Amélia procurou defender os seus dos assassinos que os atacaram) encontra-se no denominado "Anexo de Vila Viçosa", um anexo tão mais estranho quanto fica a 200 km de distância. Ou seja: o actual edifício padece dessa falha grave: a impossibilidade da reunião da colecção, o que traria benefícios e enriquecimentos óbvios à exposição e às leituras que dela se fizessem. Daí que eu defenda a existência de um novo edifício. O que espero é que o novo edifício permita mostrar toda a colecção (e mais alguma coisa que venha a ser adquirida para o museu, é claro), contextualizá-la, valorizá-la e difundi-la. Para o Real Picadeiro de Belém defendo – como tenho lido de vez em quando na imprensa – a sua utilização para os espectáculos da Escola Portuguesa de Arte Equestre (EPAE). Que o mesmo esteja impossibilitado de o fazer por "pareceres técnicos de finais dos anos 90" (como a petição refere) desconheço absolutamente. Se isso se dever à falta de instalações permanentes para os "artistas" e para os treinos, julgo que um dos vários quartéis da Calçada da Ajuda possa ser utilizado para esse fim, realizando-se do velho Real Picadeiro apenas as apresentações artísticas/turísticas, as quais, poderão, inclusive, ser diárias. Assim, os turistas que visitarem Lisboa poderão, não só ver os coches no MNC, como também assistir aos magníficos espectáculos da Escola Portuguesa de Arte Equestre, os quais poderiam até passar a integrar algumas das peças do museu (se há coisa que me faz espécie é que museus desse tipo não dêem uso a, pelo menos, parte da colecção). E a ideia (que já li em tempos) de haver carruagens em Belém para alguns percursos ali na zona não me parece nada tonta, muito pelo contrário!


No que diz respeito ao custo do projecto, acho o argumento inutilizável! Um país que não se incomoda em gastar milhões num TGV que poucos usarão e que (já está estudado e estabelecido, ou alguém no seu juízo perfeito acredita que no "longínquo" 2016 ou lá quando é, um bilhete de TGV seja mais barato do que já é hoje um Alfa Pendular?) dará prejuízo, para encurtar a viagem Lisboa-Porto em 15 minutos; um país que não se incomoda em gastar outros tantos milhões em auto-estradas paralelas com reduzidíssima utilização; um país que não se incomoda de gastar milhões em inutilidades e produtos sobrevalorizados como se pode constatar no site onde as contas do Estado e Autarquias estão publicitadas; um país que não se incomoda que as "obras públicas" tenham constantes derrapagens que custam fortunas ao erário público; um país que abandona os edifícios estatais para instalar as suas repartições em edifícios arrendados que consomem o valor da venda dos anteriores numa década; é este o país que regateia (é esse o termo) uns "míseros" 30 milhões para o seu melhor, mais visitado e mais internacional museu estatal? Haja decência! Se um novo museu com as valências que já referi, com as novas instalações da EPAE, custasse o dobro, ainda assim eu por mim, estaria disposto a pagar. A diferença? É que aqui há uma beneficiação, produtiva, rentável e que do ponto de vista turístico, valerá mais do que todas as "campanhas de produção", essas sim milionárias, que o nosso Estado paga com a eficácia conhecida! Ou melhor: absolutamente desconhecida!




Por último a questão do Museu Nacional de Arqueologia (MNA). Em primeiro lugar não percebo – em bom português - o que é que o cu tem a ver com as calças?! (andava há que tempos para aqui deixar esta expressão que uso amiúde e gosto tanto!) Mas, excluindo a inexistência de ligação (que julgo se resumirá a "um museu nacional muda de lugar"), vamos lá ver: acho bem!Sou e sempre fui contra a manutenção do MNA no Mosteiro dos Jerónimos. Em Portugal há essa mania de aproveitamento de espaços – o tal remediar – que por vezes, dada a sua carga simbólica, nada têm a ver com o uso que lhes é dado. O MNA parece-me, claramente, o caso típico. Museu instalado num convento vítima da nacionalização do Liberalismo do século XIX, foi sempre "uma coisa" que ali se acomodou, sem grande espaço, mas também sem alternativa, numa ala, sem grandes hipóteses de alargamento, sem grande dignidade (porque essa é-lhe roubada pelo Mosteiro em si). Se a Cordoaria Nacional é uma boa solução desconheço inteiramente. A Cordoaria é daqueles espaços belos que se salvaram do camartelo (e bem!), que se preservaram (graças a Deus!), mas com o qual não se tem uma ideia muito clara do que fazer… Para o MNA eu tenho um espaço que há anos me parece mais indicado: o Convento do Carmo. Mas oiço dizer que esse será um espaço dedicado a um "Museu da GNR" com a (tão na moda) "sala de memória do 25 de Abril"… A mim parece-me que o local, com as ruínas da Igreja do Carmo ali ao lado, com a envolvência, daria um excelente MNA! E assim se arranjaria uma "desculpa" (por são sempre necessárias para realizar alguma recuperação) para, não só revitalizar e abrir à comunidade o belo espaço do convento, como também para dinamizar e embelezar a zona do Carmo, tão mal tratada e descuidada está uma das praças mais bonitas de Lisboa.


E isto, é claro, se a existência de um MNA individualizado for algo considerado necessário. Não me chocava nada, nada, nada, que (pelo menos!) o MNA, o Museu Nacional de Arte Antiga (MNAA) e parte da colecção do Museu Nacional de Arte Contemporânea/Museu do Chiado (a parte novecentista da colecção pouco ou nada tem de contemporâneo…) fossem reunidos num único e grande museu nacional. Uma espécie de Museu Britânico ou Louvre à escala nacional, grande, espaçoso, bem iluminado, informativo, dinâmico. Com uma forte política de compras e enriquecimento da colecção – um mostruário, uma catedral do Portugal Antigo, se possível instalado numas Janelas Verdes (haverá nome mais belo para um museu?) alargadas, alargadas, alargadas, conservadas, restauradas, dinamizadas, recicladas, dinamizadas, com aquela soberba vista para o Tejo. Custasse isso um TGV e ver-me-iam, qual cão de Pavlov, na primeira fila de apoiantes!

sexta-feira, 27 de março de 2009

Boop-boop-a-doop!

Um certo país mediático exultou de alegria com a chegada da versão portuguesa da revista americana Playboy. Não sei porquê, mas desconfio que seja devido ao tão proclamado "atraso cultural português", que constantemente nos separa do progresso e da felicidade (ambos oscilando entre o neo-realismo socialista e o neo-libelismo capitalista) e porque agora os rios de mel terão motivos para correr por aqui. Ora, lamento, amigos, mas parece que vão ter de aguardar pela versão portuguesa de uma outra coisa qualquer estrangeirada: pelo que constato pela capa (não, ainda não comprei o número histórico para mais tarde, hummm, "recordar") e pelo catálogo que me enviaram por mail (se há coisa em que somos especialistas é no desenrasca-e-vamos-mas-é-digitalizar-isto-e-mandar-para-os-amigos), a pobreza franciscana foi tanta que a playmate escolhida para a estreia (logo, para figurar como ícone erótico-sexual do Portugal contemporâneo) foi a ex-Delirium e ex-Big Brother Mónica Sofia. Podia ser pior, dizem-me logo os muito optimistas. Claro que podia. Mas podia ser infinitamente melhor! O DN de hoje relembra a 1ª capa de sempre com, nada mais, nada menos, do que Marilyn Monroe. É caso para dizer que levamos mais de 50 anos de atraso para escolhê-las! E saímos sempre a perder… é obra!


Para que se obvie a diferença infinita, aqui fica um cheirinho daquele que é – também – um grande filme: "Some Like It Hot"… Mónica Sofia, rapariga, tens ainda que comer muito arroz e feijão para chegar aos sensuais calcanhares de Mrs. Marilyn!


quinta-feira, 26 de março de 2009

Pouca-terra Pouca-terra

Ontem, a CP encerrou as linhas do Corgo e do Tâmega sem avisar ninguém. Contava com o silêncio de todos e fê-lo pela calada, desprezando toda a gente. Mas a culpa não é da CP; é, antes, de todos os pacóvios que transformaram o país num tapete de asfalto, bom para a camionagem, para as empresas de obras públicas e para o consumo de gasolina. Em vez de investir em comboios e serviços decentes para passageiros e mercadorias, os sucessivos governos destruiram um património secular e uma parte da nossa geografia cultural – tudo em nome das ‘grandes obras’ e do ‘grande dinheiro’. Hoje há pouco a fazer. Há alcatrão, cimento, camionagem e gasóleo. Tudo caro. Os comboios portugueses inventaram um país, povoaram-no, desenharam a nossa geografia. Era um país mais bonito do que este.

Francisco José Viegas





Desde que me lembro que gosto de comboios. Gosto de comboios, ou melhor ainda, prefiro-os, da mesma maneira que prefiro gatos a cães. I'm a train person, i believe! Gosto do espaço, da liberdade que me dão, do som, dos bares, da paisagem a desfilar cuidadosamente, da vertigem da velocidade. Gosto de carris. Tanto gosto das velhas estações com velhos relógios e bancos esquecidos do tempo que passou por eles, como gosto das novas, luminosas e frenéticas onde tudo é feito para ser à pressa. Porque me defino (parafraseando uma vez mais o Francisco José Viegas) como liberal à moda antiga, vejo o comboio como um símbolo de progresso. Tal como o foi quando, há já mais tempo do que lembramos, as velhas máquinas a vapor começaram a sulcar os campos, a assobiar o seu apito nas curvas, levando "a civilização moderna e cosmopolita" como ela era concebida às cinco partidas do mundo. (Sou também um modernista aprés le temps, cujo fascínio pelas máquinas do progresso é inesgotável!) Talvez por isso também goste dos Metropolitanos, não sei! Talvez seja por me evocarem (sendo-o, também, diferentemente) os comboios e a época em que eram uma novidade e o mundo girava mais saborosamente. Gosto de comboios, tal como gosto de despedidas e partidas. E de chegadas.



Cresci numa família que tudo fez para que os comboios sulcassem estas terras a caminho das Beiras, acreditando no progresso por eles trazido. Uma família que sempre gostou de comboios. Daqueles que levavam os cabazes à família lisboeta abastecendo-a de hortaliças, vinho, pão, azeite, carne, fruta e até empadas acabadas de fazer. E que na volta traziam as velhas embalagens de Lactosimbiosina, o Malte da Portugália, um casaco dos Armazéns e as "exóticas" bananas . Cresci a ouvir as histórias desses cabazes que durante décadas ligaram uma família unida no amor e nas cartas trocadas diariamente, antes do telefone e da era digital em que vivemos. Os comboios serão, também por isso, teares da ternura.



Assim sendo, sempre que se encerra um metro de linha, ou se transforma mais um quilómetro nas inefáveis, novas-ricas e irritantes "ecopistas", sinto-me mais pobre. Sinto-nos mais pobres. E mais atrasados. E mais distantes. Não partilhando da americana celebração orgástica pelo automóvel, sinto-me europeu quando prefiro o comboio. Por isso defendo uma rede ferroviária nacional de Bragança a Vila Real de Santo António, sem TGV's desnecessários (com as honrosas excepções das ligações a Madrid e Vigo), mas com comboios de qualidade: eficientes, limpos, pontuais, regulares, silenciosos e económicos. Acredito que isso faria mais por este pobre país estilhaçado, do que mil quilómetros de auto-estradas. Acredito que novas linhas deveriam ser traçadas e construídas, e que outras tantas deveriam ser reabilitadas, modernizadas e reanimadas. Uma verdadeira rede a ligar as capitais de distrito e as cidades principais, com ligações aos metropolitanos para a circulação intra-urbana. Uma rede que fomentasse a coesão nacional, o transporte de mercadorias (mais barato e ambientalmente profícuo) e o lazer. Uma rede que poupasse a importação de combustíveis fósseis e que procurasse a autonomia energética. Uma rede ferroviária moderna, cosmopolita, e por isso mesmo, tradicional, próxima, característica.



Enfim…Um sonho e um devaneio nos tempos que correm, presumo!



© Imagem nesta linha.

quarta-feira, 25 de março de 2009

Canção das horas nº 12





Uma canção de sempre. De sempre para sempre. Sempre ... sempre dentro.

terça-feira, 24 de março de 2009

domingo, 22 de março de 2009

Sou dado a lembranças e comemorações e efemérides. Gosto da repetição que a memória me oferece e dos gestos seguros da lembrança. É por isso que gosto de lembrar com todos os que amo as suas datas, quer as felizes quer as infelizes, porque acredito que essa celebração do tempo e dos tempos nos faz mais humanos, nos torna mais próximos – de nós e das coisas, dos outros e da vida. Daí que estranhamente me tenha passado a efeméride do momento: esta Khôra fez seis meses e eu, entretido que estava a descobrir-lhe as formas, nem dei por isso… Talvez tenha sido ela que se tenha dado, retirando-se (elas gostam disso). Talvez tenha sido ela que me tenha cantado o sopro do esquecimento (elas fazem-no!). Talvez tenha sido ela a rir detrás do espelho (quem sabe?)

Seja como for, é tempo para um primeiro balanço. O balanço daquilo que jurava não ter nunca: um blogue! Pior: "um blogue pseudo-intimista e afins!…"


 

…sei que por hora cá continuarei a escrever-me e a inscrever-me, neste limiar-limite líquido (virtual, pois). Gosto da comunicação, gosto de criação e isto é hoje um dos meus espaços. Goste-se ou não, mas é alguma coisa de mim e de meu aqui é derramado, vez após vez, sempre como da primeira vez! (como, de resto, acredito que devemos viver e fazer tudo na vida… uma vez, de cada vez,
sempre (como) da primeira vez!).

… sei que tenho que agradecer a todos os que por cá vagueiam, os presentes e os ausentes, os que cantam e os que calam. Obrigado, pois! A todos!


 

(e já que falo de vós… como me surpreendeis, meus caros, como me surpreendeis! Absolutamente! Desde Dezembro que vos conto em silêncio e me espanto! Catorze países, cinquenta e uma cidades, mais de duzentas e vinte novas visitas por mês… como me enterneceis, como me responsabilizais! E aos fiéis que cá vêm, que cá moram, que cá habitam… Sem palavras abraço-vos todos e cada um em particular. A cada um digo: obrigado. e obrigado. e obrigado…)

sábado, 21 de março de 2009

Bem-vinda!


© Aqui




Mas não te podias esquecer da alergia, pois não rica prima?!...

terça-feira, 17 de março de 2009

Último Soneto

Que rosas fugitivas foste ali!
Requeriam-te os tapetes - e vieste ...
- Se me dói hoje o bem que me fizeste,
É justo, porque muito te devi.

Em que seda de afagos me envolvi
Quando entraste, nas tardes que apareceste!
Como fui de percal quando me deste
Tua boca a beijar, que mordi...

Pensei que fosse o meu o teu cansaço -
Que seria entre nós um longo abraço
O tédio que, tão esbelta, te curvava...

E fugiste...Que importa? Se deixaste
A lembrança violeta que animaste,
Onde a minha saudade a Cor se trava? ...

Mário de Sá-Carneiro


© Imagem aqui.

sábado, 14 de março de 2009

Sintonia _ e não.





Não sendo este o meu tema favorito dos Deolinda, é a canção do aqui e agora. Ah pois é! Toma e embrulha!

Glourios five

António Carlos Monteiro. Hélder Amaral. Nuno Melo. Pedro Mota Soares. Telmo Correia.


Que apenas 5 almas (em 230, Deus meu, em 230!) percebam o ridículo e o perigo do Estado legislar a quantidade de sal no pão, isso sim, é lamentável!


A ditadura higienista pan-europeia continua imparável, e ao que parece, com o apoio da esmagadora maioria das (supostas) elites... É triste e lamentável. E quando até isto é regulado temo que poucas coisas fiquem a salvo da mão impiedosa do Legislador!


Senhoras e Senhores, a Liberdade segue dentro de momentos (se ainda houver quem dela se lembre...)!...



© Salvador Dalí. Two Pieces of Bread Expressing the Sentiment of Love. 1940

sexta-feira, 13 de março de 2009

Noite escura

horas em que fico exausto, triste, exaurido, aborrecido, exangue… Canso-me da incessante construção de pontes, da tecelagem infinita de fios que nos unam. Que nos aproximem. Canso-me e chego a julgar não valer a pena. Somos Penélope e Ulisses. Canso-me dos teus estranhamentos e partidas, canso-me dos teus silêncios, canso-me da tua recusa em partilhar o que te atormenta, o que te entristece, o que te magoa. Canso-me de estar sempre em festa, do riso e do siso. Tomo todas as dores de todas as tuas desfeitas, de todas as tuas ingratidões, atolo-me no teu lodo e irrito-me comigo e contigo. Enfastio-me de nós até à náusea.

Há horas assim. Horas em que vivemos uma noite escura. Horas em que nos invade um mar de tristeza. Sem luar nem maresia, só água e solidão. O fastio é tão grande, a noite tão escura, que nem as lágrimas encontram o caminho. Só uma falta de ar, como se toda a tua solidão fosse enxofre e me sufocasse lentamente. Como se toda a tristeza que carregas em silêncio me pesasse no peito até eu não ser capaz de a suportar mais.

Há horas em que me apetece gritar. Contigo e comigo, e ah, dizer tudo o que nunca disse! Tudo o que tenho teimado em deixar por dizer. Chego a achar que o que balbuciasse faria sentido, que a tudo daria forma, que a tudo nomearia exactamente. Horas em que roo a jaula, rosno ao redor e sinto o fio da lâmina nos dentes. Horas do diabo. Horas em que me apetece espantar todos os demónios e corrê-los a todos com um arraial de pancada!



Irra que é demais! Xô mafarricos dum raio que vos parta a todos! Xô! Grandes coiros!!!



© Edvard Munch, Puberty, 1894-1895

quarta-feira, 11 de março de 2009

11/M

Terror. qualidade do que é terrível; estado de pavor; pessoa ou coisa que amedronta, aterroriza; perigo, dificuldade extrema; objecto de espanto.

Terrorismo. modo de impor a vontade pelo uso sistemático do terror; emprego sistemático da violência para fins políticos, especialmente a prática de atentados e destruições por grupos cujo objectivo é a desorganização da sociedade existente e a tomada do poder; regime de violência instituído por um governo; atitude de intolerância e de intimidação adoptada pelos defensores de uma ideologia, sobretudo nos campos literário e artístico, em relação àqueles que não partilham das suas convicções.


In Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa

(…)


et mourir à madrid le coeur brisé


(…)


Ruy Belo

Há estados anormais que (infelizmente), por força da circunstância, se transformam em estados normais. É o caso do terrorismo e dos seus inefáveis e hediondos "atentados". Quem vive hoje em Bagdad, em Cabul ou em Israel vê-se obrigado a viver permanentemente com a ameaça terrorista sobre a cabeça. Como isso é possível, como se vive com isso, já é algo que me impressiona, que me faz espécie, mas que compreendo. Nós humanos, se temos característica útil, é sermos adaptáveis. Absolutamente adaptáveis. No instinto de preservação da espécie e da vida habituamo-nos a tudo. Mesmo que por tudo se entendam os adereços de moda que impliquem explosivos, infelizmente um hábito corrente por este mundo fora!


Os exemplos são mais que muitos. De Nova York a Bagdad, de Tóquio a Telavive, de Londres a Bombaim, o rosto do mal tem-nos habituado a conviver com o terror, a estar em sobressalto, a estar em perigo. A coberto de uma dita luta de civilizações, que ninguém define, que ninguém explicita, praticam-se os maiores horrores a milhares de vítimas inocentes, vítimas apanhadas na lufa-lufa das suas atribulações domésticas, vítimas escolhidas por isso mesmo, pela sua absoluta inocência.


De todos os imensos exemplos com que a história recente nos "brindou", dois chocaram-me particularmente: Bombaim e Madrid. Sabe-se lá porquê, senti estes dois ataques como um ataque próximo, presente, de uma forma especial e indizível como não aconteceu com mais nenhum (nem mesmo com o genésico e bárbaro 11/9 de Nova York, ou o 7/7 em Londres em lugares onde já estive e onde fui feliz). Em Bombaim talvez tenha evocado o rastro da História que nos liga, que nos ata àquela cidade da costa indiana. A velha Bombaim que Catarina de Bragança levou no seu dote para Inglaterra (conjuntamente com o hábito de tomar chá, para ensinar aos bárbaros ingleses), a velha Bombaim que foi, portanto, a porta dos ingleses naquela que viria a ser a jóia da coroa do British Empire. A cidade Porta da Índia, a mesma que viu aportar o último dos Vice-Reis britânicos, a do magnífico Hotel Taj Mahal, a porta do cosmopolitismo, o símbolo da Índia aberta ao mundo, profundamente plural e complicada (como, de resto, o próprio país o é!). Em Bombaim senti os laços que nos unem há mais de 500 anos (500 anos é obra, caramba!) ensanguentados, feridos naquilo que têm de mais próprio, de mais único, a saber, o encontro. O encontro com o outro, com a novidade, com a estranheza do estrangeiro, do outro-outro. Em Bombaim matou-se e morreu-se por ser estrangeiro, pelo carimbo de um passaporte. Atacou-se o estrangeiro, atacou-se a sua imagem, os seus símbolos, e os próprios símbolos do acolhimento, da hospedagem – os hotéis – da mão estendida ao próximo, mesmo quando esse próximo vem do outro lado do mundo.


Com o 11/M de Madrid aconteceu-me algo mais umbilical, mais genésico, talvez – descobri-me ibérico! Descobri-me da mesma cepa que as vítimas, com o mesmo património genético e cultural, com quase a mesma história. Tal como D.Manuel I protestando contra a proclamação dos Reis Católicos como soberanos de Espanha (que diabo, também ele era soberano da e na Hispânia!), senti a minha hispanidade, senti-me irmão na dor e no destino. Senti-me irmão no desespero e na revolta, no choro e no choque. Hora e mais horas passei em frente à televisão a acompanhar as vítimas, a chorar com elas, a rezar pelos mortos, pelos sobrevivos, pelos vivos. A rezar pelo perdão: o dos Homens e o de Deus. O perdão por tudo o que há de mais imperdoável, de mais pecaminoso no mundo. A rezar por aqueles que olharam nos olhos as vítimas inocentes do seu imenso crime e não vacilaram, e não hesitaram, e não abortaram a sanguinária tarefa para a qual se ofereceram! Descobri-me ibérico e descobri uma Espanha orgulhosa e viva que consigo admirar, que não vacila perante a adversidade, que lambe as suas feridas e avança – e isso é notável!




Da dificuldade que todos sentimos em lidar com esta realidade, em pensar sobre ela, responde a necessidade de nos ampararmos num dicionário, de lhe procuramos as definições, como todas, sempre boas e confortantes. Para que as palavras possam falar, para que as possamos escutar com maior atenção, para que o dito seja sempre mais conforme ao Dizer. Para que (com Heidegger e o seu célebre "Denken ist Danken") possamos agradecer-lhes a voz, o tom, a dobra.


Do terror podemos pois dizer que se trata da irrupção do mal. Trata-se de uma brecha, um rasgão na realidade, na realidade das coisas de todos os dias, na realidade do alinhamento comum das horas. Um rasgão súbito no tecido da vida. Dos homens e das civilizações. Uma brecha absoluta, terrível, uma interrupção forçada, um soluço do mundo; em suma: a visita do mal enquanto mal, o aparecimento do seu rosto e da sua obra. Os actos terroristas, quaisquer que eles sejam, com quaisquer que sejam as suas motivações, as suas justificações (a havê-las) provocam-me a sua recusa visceral. Provocam-me o nojo absoluto. Provocam-me o choque e a indignação infinitas. Uma espécie de luto, portanto. Daí que eu recuse a visão do mundo como tensão permanente entre exploradores e explorados, ou seja, a visão marxisto-leninisto-classicista do mundo. Porque essa é (malgré soi, ou talvez não!) uma das principais fontes, uma das raízes da visão do mundo que acha legítima a guerrilha para mudar o mundo (seja o sentido dessa mudança o que for). Que acha legítima a "luta armada" para reivindicar a mudança, para reivindicar a transformação do mundo. É por isso que sou incapaz de encontrar bondade e sentir qualquer tipo de respeito por "movimentos armados", "guerrilhas", "movimentos de «libertação» " e outros que tais! Recuso terminantemente todo e qualquer movimento armado reivindicativo de qualquer coisa (mesmo aqueles, como era o caso de Timor, aparentemente com motivações justíssimas). O problema está em achar que para mudar o mundo há que matar, torturar, aterrorizar o próximo, o outro. Efectivamente isso produz mudança no mundo, só suspeito é que essa mudança não seja aquela que gera um mundo melhor. Porque razão há-de alguém, para defender o que acredita ser justo e melhor (mesmo que seja a pior das tiranias…) matar aqueles que de si discordam, é algo que me ultrapassa completa e absolutamente!


Para com o terrorismo contemporâneo, herdeiro intelectual da "luta anti-colonial" (há em todo o vocabulário destes vitimados algozes a insistência no belicismo) e dos (ditos) não alinhados, não pode haver qualquer tipo de contemplações. Com assassinos bárbaros como estes (em todos os sentidos de "bárbaro", inclusive no original, "aquele que não fala grego", isto é, aquele que não herda a cultura grega, ou pelo menos uma certa tradição tolerante da Helade) não há negociação possível! Todo e qualquer compromisso, todo e qualquer entendimento é um reconhecimento de alguma legitimidade, de um mínimo de legitimidade, um mínimo, um resto que, quanto a mim, ofende todas as vítimas, ofende a sua memória e o seu sacrifício. E isso não posso aceitar! Com assassinos que massacram gente, gente que espera o comboio, gente que está num restaurante a comer, gente que calhou ter um passaporte do qual eles não gostam, gente que tem outra religião ou outra cor, gente que está doente num hospital (em Bombaim a barbárie nem se compadeceu com os doentes!), com gente desta, não há acordo possível. Não pode haver negociação, porque a honra e a dignidade não se negoceiam. A rectidão também não. Com gente desta só pode haver punição. Exemplar. Não as punições exemplares dadas aos nazis: não! Eles devem viver, presos, mas vivos. E devem ser confrontados com os seus actos, com os seus crimes, com os seus efeitos, com as suas vítimas. A punição será essa (e é talvez a pior de todas – viver com o que se fez).




E o mais irónico de tudo isto, o que é mais terrível, ainda mais terrível (dentro deste mundo os adjectivos vão aumentando o seu horror em crescendo, como se o mundo estivesse transformado numa imensa casa dos horrores) é que todos estes actos hediondos só vêm reforçar a legitimidade da ocidentalidade europeia e latina (digamo-lo sem falsos pudores) e uma certa superioridade da sua cultura sobre a cultura de morte que grassa por entre a miséria do (dito) 3º Mundo (e infelizmente, pelo dito 1º Mundo se olharmos para os casos Basco e Norte Irlandês). Somos superiores, não por razões extrínsecas à nossa vontade mas simplesmente porque somos a civilização que aboliu a escravatura, a pena de morte, que deu igualdade de oportunidades a todos, que sacralizou a vida humana (mesmo com as contradições de abortos e eutanásias, mesmo com todos os avanços e recuos, mesmo com todas as contradições
internas), que viu o outro como um outro inalienável, único e irrepetível. A civilização da magistralidade do outro, do próximo, como de resto, também se começa a ver nas mudanças operadas nas relações amorosas. Somos superiores na medida em que afirmemos os nossos valores com convicção, sem medo, sem vergonha e sem complexos! Na medida em que não cedamos um milímetro em face destes tiranos. Na medida em que proclamemos os valores da nossa civilização bem alto, porque eles são melhores, apesar de todos os pesares, de todos os tropeções e de todas as esfoladelas, eles são melhores. Porque eles preservam a vida e a dignidade, porque eles afirmam a democracia e a liberdade. Porque eles afirmam a liberdade intrínseca de cada um, a liberdade da sua consciência. E nós seremos sempre melhores enquanto enfrentarmos estes assassinos e tudo fizermos para os determos. Nós, ou seja, o mundo unido contra o terrorismo, contra a barbárie, nós seremos sempre melhores!


A superioridade da cultura ocidental (apesar de todas as algemas dos relativismos culturais é fácil aferir as diferenças profundas), aquela que vai de Jerusalém a Atenas, de Bizâncio a Roma, de Lisboa ao Rio de Janeiro, de Londres a Nova York, a superioridade da civilização de matriz cristã (é essa a sua mais forte matriz, goste-se ou não, creia-se ou não, mas é essa a sua matriz, o ventre que permitiu o nascimento dos direitos humanos e das sociedades modernas) será essa: a invenção (permanente e ainda a fazer-se) da política como democracia, a escolha da diplomacia em vez da guerra. Uma civilização que conseguiu alcançar níveis de progresso e realização inimagináveis, progresso comum, generalizado como nunca nenhuma outra antes dela. Esta será sempre uma mais-valia, um elemento de superioridade face a estes assassinos, a estes bárbaros e pobres humanos, pobres de humanidade. Eles são o rosto visível do mal, de um mal tão chocante, tão gratuito, quanto aquele que nos arrepia nos Campos de Extermínio nazis ou nos Gulagues comunistas. Agindo contra toda uma tradição tolerante no mundo, toda uma matriz que acaba por força da História por ser comum, comum à humanidade, consubstanciada nas grandes civilizações-berço orientais (seja na sua feição hindu, budista, taoista ou islâmica) cuja cultura de tolerância será ainda a origem, a remota e distante, mas a fazer-se presente origem do nosso mundo, estes são portanto os algozes do melhor que mais de dez mil anos de Civilização nos legaram. Dez mil anos difíceis, onde esta matriz conviveu com as maiores barbáries, os actos mais sanguinários possíveis. Mas resistiu e veio, no nosso mundo, impor a sua superioridade, impor a sua legitimidade, impor-se como destino comum do Homem.


E nunca nos esqueçamos de uma coisa: nada os parará. Nenhum escrúpulo os limita (um hospital Deus Nosso, um hospital!), nenhuma ética os inspira, nenhuma moral os dirige. É preciso que o compreendamos. É preciso que compreendamos que esta guerra ainda agora está a começar. Que nos preparemos para o que vem. Que não será fácil, como de resto nunca o foi. Que esta é uma batalha tão absoluta que decidirá o destino do mundo. Que compreendamos que só a força dos nossos valores, proclamados e afirmados, só a resistência ao medo e à cobardia, nos poderá levar à vitória. Sem armas, sem mortes, triunfaremos. De resto, e estamos em época de o lembrar, a dignidade do humano, a inviolabilidade da sua vida e a justiça sempre acabaram por triunfar. Depois de muito sangue e lágrimas, mas triunfaram sempre! Se outras coisas não nos ensinasse, ao menos isto aprenderíamos sempre do exemplo do Coliseu de Roma…



© Rene Magritte, Luce polare, 1927

segunda-feira, 9 de março de 2009

Em terra de cegos...

Uma das pouquíssimas vozes lúcidas dos nossos dias. Palavras para quê?

domingo, 8 de março de 2009

Ah, pois é…



Democracy is a device that insures we shall be governed no better than we deserve.


George Bernard Shaw




© Phill Scroggs

sábado, 7 de março de 2009

Azeem o shan shaenshah



Azeem o shan shahenshah
(O great and glorious Emperor)

Farma ravaa
(You are the commander of authority)

Hamesha hamesha salaamat rahe
(Forever may You be safe and secure)

Tera ho kya bayan, tu shaan e Hindustan
(How do we praise You, You are the pride of Hindustan)

Hindustan teri jaan tu jaan e Hindustan
(Hindustan is Your life, and You are the soul of Hindustan)

Marhaba O Marhaba
(Welcome o Emperor, welcome)

Sab nagran ma, Har aangan ma
(In every town, In every territory)

Prem hai tumra, Har har mann ma
(Your love exists In every heart)

Daya jo tumri, Mahabali hai
(Its Your mercy O Emperor)

Des mein sukh ki Pavan chali hai
(That the breeze of joy blow in the county).

Jhan jana jananna...

Marhaba O marhaba
(Welcome o Emperor, welcome)

Azeem o shan shahenshah, Marhaba
(O great and glorious Emperor)

Deta hai har dil yehi gawahi
(Every heart gives this testimony)

Dilwale hai dil-e-lahi
(Our Emperor has a mighty heart)

Jao kahin bhi niklo jidhar se
(No matter where You go or come)

Galiyo galiyo sona barse
(Every path is showering with gold)

Jhan jhanan nana...

Marhaba Ho Marhaba
(Welcome o Emperor, welcome)


Azeem o shan shahenshah
(O great and glorious Emperor)

Tera mazhab hai jo mohabbat
(Your religion is Love)

Kitne dilo par teri hukumat
(Your rule/reign over so many hearts)

Jitna kahe hum utna kam hain
(No matter how much we praise, it's just too less)

Tehzeebo ka tu sangam hai
(You are the unifier of all cultures)

Azeem o shan shahenshah
(O great and glorious Emperor)

Farma ravaa
(You are the commander of authority)

Hamesha hamesha salaamat rahe
(Forever may You be safe and secure)

Tera ho kya bayan, tu shaan e Hindustan
(How do we praise You, You are the pride of Hindustan)

Hindustan teri jaan tu jaan e Hindustan
(Hindustan is Your life, and You are the soul of Hindustan)

Marhaba O Marhaba
(Welcome o Emperor, welcome)

Jodha Akbar



© Tradução
aqui




Porque Bollywood é uma grande fábrica de espectáculo, porque o hino é belíssimo, porque a Índia me fascina, porque gosto da sonoridade do ritmo e da cor, porque há aqui raízes, porque ainda oiço as caravelas, porque não me sai da cabeça...

sexta-feira, 6 de março de 2009

Cantos de Orfeu II

(...)



I was born to adore you
As a baby in the blind
I was born to represent you
To carry your head into the sun
To carve you face into the back of the sun



Antony & The Johnsons, The Crying Light



© Imagem aqui.

terça-feira, 3 de março de 2009

Padrão

Está por estes dias estampada na imprensa a campanha para a eleição das 7 Maravilhas de Origem Portuguesa no Mundo. Mais do que o critério usado para escolher as candidatas (discutível, como todos) e da informação errada que a acompanha (ao dizer que "Portugal é o único país do mundo com património classificado em três continentes" esquecem o nosso próprio continente, o europeu, onde, inclusive, parecem não ter encontrado nenhuma maravilha de origem portuguesa e digna de ponderação… adiante!), intrigou-me a frase promocional da campanha:




"Se tivéssemos ido à lua não tínhamos lá deixado apenas umas pegadas."






Pois não, pois não… no mínimo tinha ficado um Padrão!...



© Imagem
aqui.

domingo, 1 de março de 2009

De cor *

© Imagem aqui


VI

Aumentámos a vida com palavras
água a correr num fundo tão vazio.
As vidas são histórias aumentadas.
Há que ser rio.

Passámos tanta vez naquela estrada
talvez a curva onde se ilude o mundo.
O amor é ser-se dono e não ter nada.
Mas pede tudo.




Natália Correia



* Obrigado por mo trazeres à língua!