domingo, 30 de novembro de 2008

Vindas (variação em lá Maior)





Hoje sou carnívoro, quero o teu corpo .
Quero o teu cheiro e o teu suor,
abrir-te com beijos, prender-te as mãos
submeter-te ao meu cio. Sem merdas.
Não me venhas com as metafísicas
mais os medos e os fantasmas.


(Nem sequer fales.)


Hoje sou o teu corpo, quero a tua carne.
Quero os teus gemidos e o teu fôlego,
os teus dedos a arranharem-me as costas
e os meus dentes a tatuarem-te a pele.
Hoje sou carnívoro e tu a minha presa.
Mais nada.


______________________________________




Amanhã, sim, quero-te por inteiro.
Vem, juntos combateremos as sombras.
Não mais as aves deixarão de voar.




sábado, 29 de novembro de 2008

Amo, amas

Amar, amar, amar, amar siempre, con todo
el ser y con la tierra y con el cielo,
con lo claro del sol y lo oscuro del lodo:
Amar por toda ciencia y amar por todo anhelo.

Y cuando la montaña de la vida
nos sea dura y larga y alta y llena de abismos,
Amar la inmensidad que es de amor encendida
¡y arder en la fusión de nuestros pechos mismos!



Rúben Darío

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

A instrução pátria, ou: sobre a ignorância

« Lurdes Rodrigues garante estar aberta a discutir "se a avaliação se faz com esta ou aquela componente mais". Mas entende que "não há razão para suspender o processo". E os dias de tensão vão provavelmente continuar.
Garante, contudo, que também tem tido bons momentos. "Muitos." Pede-se-lhe que partilhe um. "Uma carta que recebi de um menino que recebeu um computador para ter em casa, não sei já em que circunstância, e escreveu-me a dizer: 'Quando for grande, vou inscrever-me no PS.' É tocante."
»

In: Perfil da Sra. Ministra da Educação, Maria de Lurdes Rodrigues, publicado no suplemento P2 desse pasquim que dá pelo nome de Público (sublinhado meu).


No comments.

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

I feel in the mood for... The Bomb


Be all that you can be. Make a difference, give your dreams to me
Just like the television says, join the army, get ahead, oh please
No time for sleeping.
There's too much to do

Don't you forget that we do what they want us to

Let's get nuts. Let's spend some money
Take your shirt off honey
Let's freak out, life's just a party
You'll be sorry Charlie


Taste all your hearts desires. Take a boat ride through the sky and play
Go where it is you want to go, see the world on a float someday
They can be lazy or have some real fun
Nothing's too crazy, those politicians can't get done

Let's get nuts. Let's spend some money
Take your shirt off honey
Let's freak out, life's just a party
You'll be sorry Charlie


Rose colored glasses seem to be the rage
Oh, Mr.President, in bed with terrorists again ?

Let's get nuts. Let's spend some money
Take your shirt off honey
Let's freak out, life's just a party
You'll be sorry Charlie
Let's get nuts. Let's spend some money
Take your shirt off honey
Let's freak out, life's just a party
You'll be sorry Charlie



Bitter:Sweet

bomb - bitter:sweet

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

terça-feira, 25 de novembro de 2008

liberdade

Esta é a madrugada que eu esperava

O dia inicial inteiro e limpo

Onde emergimos da noite e do silêncio

E livres habitamos a substância do tempo

Sophia

Nasceram estas palavras a propósito de um outro 25. Mas julgo-as mais a propósito do dia que hoje se celebra (ou pelo menos devia celebrar-se, mas enfim…). Dia da liberdade por excelência, de uma liberdade sem maiúsculas, mas mais inteira e limpa. Da liberdade de escolher. Da liberdade de mudar. Da liberdade de construir o futuro pelas próprias mãos. Da liberdade de ser livre. E viver.

(Há 33 anos uma operação militar punha um fim simbólico naquilo a que a
revolucionária França apelidou de “manicómio em auto-gestão”. Nesse dia, um novo caminho emergiu da noite e do silêncio em que o queriam meter, um novo dia amanheceu livre, um povo retomou o caminho democrático interrompido 65 anos antes. Cunhal e os algozes de novas ditaduras e novos mortos foram vencidos e a liberdade floresceu no sol outonal. Há 33 anos os meus
, ameaçados de morte, puderam finalmente sair para o sol. E respirar. Há 33 anos, a vida triunfou.)

Por isso, hoje, hoje mesmo e unicamente hoje, vale a pena usar cravos.

…de todas as cores e feitios!

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Dobras


Se soubesses...

Se, ao menos, soubesses...


If you knew...


Summer 78 - Yann Tiersen

sábado, 22 de novembro de 2008

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Como uma vaca veio residir com os orelhudos

Um dia numa floresta um coelho matou um homem. Uma vaca observava esperando que o homem se levantasse. Um insecto rastejou na cara do homem. Uma vaca saltou uma sebe para ver mais de perto como um coelho arruma um homem. Um coelho ataca uma vaca pensando que a vaca veio ajudar o homem. O coelho domina a vaca e arrasta a vaca para a sua toca. Quando a vaca desperta a vaca pensa, eu queria estar no cimo da terra indo com o homem para o meu estábulo. Mas a vaca permanece com estes orelhudos para o resto da vida.

Russel Edson

terça-feira, 18 de novembro de 2008

Elogio do vinho


Um amigo meu, homem superior, considera que a eternidade é uma manhã e dez mil anos um simples abrir e fechar de olhos. O sol e a chuva são as janelas da sua casa. Os oito pontos cardeais as suas avenidas. Caminha sem destino. Inútil se torna procurar as suas pegadas. A sua casa tem o céu por tecto e a terra por leito. O seu único pensamento é o vinho. Nada mais, aquém ou além, o preocupa.O seu modo de viver chegou aos ouvidos de dois respeitáveis filantropos: o primeiro, um jovem nobre; o outro, um famoso letrado. Foram visitá-lo e com olhos furiosos e ranger de dentes, agitando as mangas as mangas das suas vestes reprovaram vivamente a sua conduta. Falaram-lhe dos ritos e das leis, do método e do equilíbrio. E as suas palavras zumbiam como um exército de abelhas. Entretanto o seu interlocutor encheu um copo e bebeu-o de um trago. Depois sentou-se no solo com as pernas cruzadas, encheu de novo o copo, afastou a barba e recomeçou a beber até que, a cabeça inclinada sobre o peito, caiu num estado de inditosa inconsciência, apenas interrompido por relâmpagos de semilucidez. Os seus ouvidos não teriam escutado a voz do trovão, os seus olhos não teriam reparado numa montanha. Cessaram frio e calor, alegria e tristeza. Abandonou os seus pensamentos. Inclinado sobre o mundo contemplava o tumulto dos seres e da natureza, como algas flutuando sobre um rio...


Lieu Ling
(Tradução de Jorge Sousa Braga)

domingo, 16 de novembro de 2008

Balada das palavras perdidas

Pergunto-me se esta canção, com a magnífica orquestração que tem, se cantada em inglês não estaria na nossa memória musical através do cinema americano? Pergunto-me se esta mulher, Madalena Iglésias, cantando em inglês, não teria sido uma estrela maior do "star system" (muito maior do que foi no mundo Ibero-Americano onde foi uma das maiores estrelas dos anos 60, entenda-se)? Pergunto-me qual a razão de hoje ainda conseguirmos exportar menos música do que quando nos definíamos como orgulhosamente sós?

sábado, 15 de novembro de 2008

Floricanto

Mi corazon sufre y se llena de enojo
Solo una vez se nace, una vez se es un hombre
una vez se ama, pues de una vez por siempre
Este es mi destino, vivir segun su antojo

Si aun por breve tiempo estuvieras a mi lado
Envuelto en mi rebozo, suspenso en mi beso
Dejando tu cuidado entre flores olvidado
Si aun por un momento estuvieras a mi lado

Del todos nos vamos y desaparecemos en su
Del todos nos vamos y desaparecemos en su casa
Del todos nos vamos y desaparecemos en su
Del todos nos vamos y desaparecemos en su casa

Mi corazon sufre porque el tambien se acaba
Suspira por la vida y marcha hacia la nada
Su dominio es dudoso, su deber peligroso
Sus nervios y su voz y su orbita prestados

Alla se hacen las cosas ondulando dondevida no
Alla se hacen las cosas ondulando dondevida no hay
Alla se hacen las cosas ondulando dondevida no
Alla se hacen las cosas ondulando dondevida no hay

Del todos nos vamos y desaparecemos en su
Del todos nos vamos y desaparecemos en su casa
Alla se hacen las cosas ondulando dondevida no
Alla se hacen las cosas ondulando dondevida no hay

Lhasa de Sela



Não me lembro da primeira vez que ouvi esta canção. Sei que terá sido nos conimbricenses Quebra ou TAGV. Dois dos meus lugares de sempre, dos dias frios e dos dias quentes, do imbatível e perfeito chocolate quente à espanhola de um, das torradas de pão caseiro com orégãos do outro. Do fino nocturno na fresca esplanada de um, à Coca-Cola com livro na panorâmica esplanada das tardes do outro. Sei pois que foi por lá que a escutei pela primeira vez. Os lugares da amizade, dos risos partilhados, das tréguas e das partilhas. Lembro-me dela sempre como nos lembramos de um primeiro beijo. E é inevitável: quando a escuto, sempre que ela vem e dança comigo, dou comigo a sorrir e a deixar-me levar... Pelas suas ondas, pelas suas mãos, pelas suas dobras. A seduzir-me. A apaixonar-me. A arrebatar-me. Como da primeira vez, uma primeira de todas as primeiras vezes.

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Assim era nos tempos


Assim era nos tempos.
E as pequenas estrelas caem agora dos ramos das oliveiras,
Sombra bifurcada cai escura no terraço
Mais negra que o gavião pairando
A quem não importa a tua presença,
O estampado da sua asa é negro no telhado
E o estampado desapareceu com o seu grito.
Por isso leve é o teu peso sobre Tellus
Tua marca não mais funda talhada
Teu peso menor que a sombra
Tu porém roeste através da montanha,
Os dentes de Cila menos aguçados.
Encontraste ninho mais suave que cunnus
Ou encontraste melhor descanso
tens plantação mais funda, o ano da tua morte
Traz-te rebento mais temporão?
Penetraste mais fundo na montanha?



Ezra Pound


(in "Do Caos à Ordem»,tradução de Luísa Campos e Daniel Pearlman)

terça-feira, 11 de novembro de 2008

Canção das horas nº 2




(...)
E só assim então
Serei feliz, bem feliz!

domingo, 9 de novembro de 2008

Meu Primeiro Amor


Saudade palavra triste
Quando se perde um grande amor
Na estrada longa da vida
Eu vou chorando a minha dor
Igual uma borboleta
Vagando triste sobre a flor
Seu nome sempre em meus lábios
Irei chamando por onde for
Você nem sequer se lembra
De ouvir a voz desse sofredor
Que chora por teu carinho
Só um pouquinho do teu amor
Meu primeiro amor
Tão cedo acabou
Só a dor deixou
Nesse peito meu
Meu primeiro amor
Foi com uma flor
Que desabrochou
E logo morreu
Nesta solidão
Sem ter alegria
O que me alivia
São meus tristes ais
São prantos de dor
Que dos olhos caem
É porque bem sei
Quem eu tanto amei
Não verei jamais


Hermínio Gimenez




Meu Primeiro Amor (Lejania) - Roberta Miranda

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

God Bless America II

América, América

Por contingências da cronologia, este artigo foi escrito antes de se conhecer o próximo inquilino da Casa Branca e publicado depois. Salvo surpresa, o inquilino será Barack Obama. Para o caso, não importa. E o caso, aqui, é o meu com a América, pouco susceptível de sofrer abalos por via das urnas.

Claro que a esquerda europeia e certa esquerda nacional andam empolgadas com a ascensão de Obama. Embora custe entender o que vai naquelas cabeças, talvez julguem que a vitória de Obama implica a capitulação dos EUA perante os seus inimigos. Ou a transformação do país num imenso Estado “social”, dedicado à humilhação dos ricos e, admita-se, dos operários e saloios sem consciência de classe que a esquerda abomina. No fundo, a esquerda aguarda que Obama acabe com uma determinada ideia da América. Ou, nos melhores sonhos, com a América.

Em época de obituários frenéticos do “neoliberalismo” e do “neoconservadorismo”, que ninguém define e todos condenam, não quero estragar o gozo de ninguém, mas temo que faltem caixões para tanto enterro e que o gozo não dure muito. Também face a Obama, a esquerda sofre do que, em bom português, se designa por wishful thinking, o hábito de tomar os desejos pela realidade.

Na América, que os marxistas pioneiros imaginaram cenário da vanguarda proletária, a realidade teima em desiludir a esquerda. Cada Presidente com que tentou simpatizar arruinou-lhe as fantasias em questão de semanas. Ou dias. Com diferenças de pormenor e discurso, as esperanças momentâneas da esquerda confiaram igualmente nas virtudes capitalistas e na pertinência militar. Não parece que Obama constitua excepção.
É claro que eu preferia McCain, menos pela área ideológica que na campanha ele fingiu representar do que pelas provas do seu passado, o qual, ao invés do passado do cintilante adversário, não se restringe a uns fogachos de activismo “cívico”. Por conveniência eleitoral, que suspeito errada, o moderado McCain abraçou o populismo à Goldwater de que nitidamente não comunga. Obama, por sua vez, viu-se forçado a disfarçar um currículo tangencial a figuras e causas “progressistas”. É interessante notar que ambos negaram boa parte do que realmente são. Dado que a América não é o que os europeus e alguns americanos enclausurados em universidades e redacções jornalísticas gostariam que fosse, é interessantíssimo notar que a negação empurrou ambos para as respectivas direitas.

Se tivesse ganho, acredito que McCain governaria de acordo com as suas convicções. Obama, cujas convicções são afinal vagas, volúveis e “estratégicas”, governará de acordo com as genéricas imposições do país “médio” e, por comparação com a Europa “média”, reaccionaríssimo. Em política externa e interna, as alterações serão principalmente discretas, ou no mínimo bastante comedidas para as expectativas da esquerda que nos é familiar. Ainda que José Saramago descobrisse em Obama o candidato da “revolução”, não se afigura provável que o senador do Illinois imponha nos EUA o tipo de revolucionária (e, passe a redundância, assassina) que o sr. Saramago sempre venerou. Nem que as suas medidas futuras encantem os sujeitos que leccionam workshops nos acampamentos de Verão do BE.

Em boa parte, o absurdo entusiasmo de estalinistas, leninistas, trotskistas e artistas afins em volta de Obama deriva de um cliché racista: o preto subversivo e avesso ao “sistema”. Sucede que, formado pelo “sistema” e eleito por milhões dos votantes em Bush, Obama encontra-se a milhas da subversão. Pelos repugnantes padrões do sr. Saramago, que a criatura exibe ou oculta consoante o contexto, o cristão e favorito do capital Obama é, na terminologia da seita, um óbvio “fascista”. Para cúmulo, com uma ironia que o sr. Saramago tem naturais dificuldades em detectar, celebrar o democrata é celebrar o vigor da única democracia capaz de escolher o Presidente dentro de uma minoria étnica.

Mudança é o slogan, não é? Mais do que a mudança após Obama, fundamental é entender que a América mudou durante 200 anos até chegar a Obama. Ao contrário do Ocidente que sobra, aliás, a mudança pertence à essência da conservadora América e, em larga medida, descreve esse lugar de fronteira que reflecte como nenhum outro os paradoxos da espécie e as suas maiores conquistas: progresso, conflito, superficialidade, comércio, comunidade, ambição, propriedade, tradição, ruptura, espectáculo, violência, iniciativa, racionalidade, optimismo, crise, religiosidade, ciência. E, sobretudo, liberdade.

Visto que, com ou sem Obama, a América não ameaça tornar-se uma Cuba ou sequer, se Deus e os homens que prezam tratamento de homens livres permitirem, uma paternal Finlândia, a América só não muda de modo que aqueles que a odeiam desejariam. De resto, a mudança na América não morreu com Bush nem nasceu com Obama. E o ódio à América não nasceu com Bush nem morrerá com Obama.

Alberto Gonçalves






* Há pessoas que têm o dom de dizer aquilo que, se tivéssemos engenho e arte, gostaríamos de dizer. O Alberto Gonçalves (na Sábado e nos Domingos do DN) é, por estes dias, o meu guru das crónicas. É um dos mais brilhantes da sua geração, e tal como alguns outros que devoro sempre que encontro (caso do Luciano Amaral ou do Rui Ramos), sabe pôr o dedo na ferida como poucos (e quase nenhum) o fazem neste país. Sempre com uma ironia refinada, uma elegância fascinante, e, sempre que lhe apetece e deve, uma crueza desconcertante. É daquelas pessoas que apenas sabem/conseguem gerar ódios ou amores avassaladores. Ou se ama ou se odeia. E eu sempre gostei de gente no limite...



Este é o texto por ele publicado na Sábado sobre as eleições americanas. Como complemento - se é que precisa! - deixo aqui o texto dos Dias Contados no DN do último Domingo. Sou fã, pois que sou!

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Vinda I


Vou ser o sol que te recebe nos braços
vou ser a luz que te guia,
teu porto de abrigo
tua conquista e teu assombro


gladiador de feras e a própria fera
domarei todos os teus medos
espantarei todos os teus fantasmas.
serei o teu chão e as tuas asas
serei a vertigem e o fogo da manhã.


vem, encosta a cabeça e repousa
no meu peito todo de penas


quarta-feira, 5 de novembro de 2008

God Bless America

À hora em que escrevo, os EUA votam para a eleição do seu novo Presidente. Os “tickets” (como por lá se diz) são basto conhecidos: Obama-Bidden pelo Partido Democrata versus McCain-Palin pelo Partido Republicano (bem, pelo menos são estes os candidatos que têm hipóteses de conseguir votos no Colégio Eleitoral, o que é diferente). Sendo difícil fazer a transposição do sistema político americano para a generalidade dos sistemas europeus (na célebre dicotomia esquerda-direita), não será fácil e taxativo, à partida, ter um candidato – whatever it might be – se bem que esta expressão só seja possível porque as eleições americanas despertam mais paixões e “adeptos” no mundo, do que, diria, o próprio futebol!

Ora, foi necessário ir aos programas eleitorais e aos discursos. De Mr. Obama abundam os discursos, embora – coisa que me parece que o mundo ainda não percebeu… - todos e cada um deles se resuma em duas ou três ideias gerais, fracas e nada concretas. Ora, por definição, eu sou pouco dado a lirismos políticos, venham eles sob a forma de utopias, venham eles sobre a forma de “caudillos”. Quase sempre isso significa muito sangue derramado, muitos mortos, muito sofrimento, muita pobreza e muita fome. Ou, no melhor dos cenários, muita desilusão. O meu problema com a Obamania destes tempos, é ela não ser fundamentada em nada de sólido, de concreto, nem que fosse uma promessa eleitoral qualquer. Não. O Sr. esmera-se a falar de “mudança” de “esperança” e de “sonho” sem que isso signifique alguma coisa na vida real. Quer mudar a imagem dos EUA no mundo, mas o máximo que lhe ouvi foi algo como “dar as mãos com os outros povos” para chegar a “entendimentos comuns”… Ora, para quem é considerado um “orador brilhante” (bons “speech writers” e “telepontos” fazem maravilhas!), convenhamos, é muito pouco… ou, no mínimo e com a máxima das boas vontades, infantil – e eu nunca acredito que em política, na grande política, haja infantilidades… Decidi-me então pelo Sr. McCain. Velho herói de uma guerra perdida, homem conhecido pela verticalidade, pela integridade, pela honestidade, pela honra, tem aquilo que eu aprecio nos políticos: é um homem à antiga, de velhas fidelidades, de velhos valores. E isso é admirável! Além disso tem uma coisa que eu, bom admirador de Churchill, aprecio: o sentido de humor e a capacidade de rir de si próprio - ora, o Sr. Obama nisso é tão técnico quanto os seus discursos: o homem não é um homem, é um mito! O Sr. McCain tem também, obviamente, um programa político que me parece muito mais bem conseguido, muito mais realista e realizável. E tem uma diferença abissal com o Sr. Obama: a questão iraquiana.

Aquando do atentado ao World Trade Center temi a reacção americana. Aliás, à laia de anedota, a minha primeira reacção quando soube do que tinha acontecido (lá para as 18.30, já o mundo estava em choque há horas…) foi pensar em enlatados: em ir comprar enlatados, porque é sempre isso que é mais necessário em tempos de guerra… Começou o ataque ao Afeganistão e encolhi os ombros (embora a questão do “direito de ingerência” seja algo que ainda não resolvi o suficiente comigo-mesmo); depois, foi anunciado o ataque ao Iraque e eu, adepto incondicional da NATO, achei e acho que deveríamos apoiar os nossos aliados, se bem que moderadamente: os EUA e o Reino Unido iam atacar sempre, em qualquer caso, logo tínhamos mais a ganhar com um apoio, mesmo que velado, do que sem ele. Mas nunca pensei que a estratégia para o momento seguinte fosse decalcada da descolonização portuguesa, ou seja, a destruição do Estado implantado. Atacar um Estado, tomá-lo, e depois desmantelá-lo fazendo tábua rasa de tudo o que existia antes, eis, quanto a mim, o grande, o magistral erro da Administração Americana no Iraque. Só que um erro não se resolve com outro erro: o abandono. E é isso que o Sr. Obama propõe para o Iraque. Para ele, a invasão foi um erro (parece consensual, embora, se calhar não pelos mesmos motivos), a estratégia para o pós-ataque foi desastrosa (também consensual), e a solução é abandonar porque não se ganhou à partida, ou seja, em termos muito americanos, repetir a tragédia do Vietname. Isto é: invade-se um país estrangeiro, destrói-se, aniquila-se toda a estrutura estatal desse mesmo país, saqueia-se, e depois abandona-se à sua sorte porque já não interessa… Acho engraçado isto vir do dito candidato de esquerda, ou talvez não seja assim tão surpreendente… É, de resto, uma posição, mais uma vez (uma mal nunca vem só!!!) alinhada com a descolonização portuguesa – ou como gosto de lhe chamar, vamos-embora-traz-a-bandeira-antes-que-eles-notem. Ora a história serve, precisamente, para aprendermos com ela. A “solução” democrata para o Iraque é uma vergonha e é indigna para uma grande nação como a americana! O proposto é pura e simplesmente abandonar um país destruído à sua boa/má sorte… Não se faz! É, ou deveria ser – pelo menos – um crime contra a humanidade.

Mas pronto, quem decide é o povo americano (coisa estranha e “impossível” de compreender para os “campeões da democracia” na Europa). E esse parece ir atrás dos comentadores deslumbrados com a “imagem” de Obama, com a sua “postura presidencial” e com a sua “cor da pele” (será que ainda não perceberam que em termos de racismo, tão racista é o que não vota no homem porque é mulato, como é aquele que vota por o homem ser mulato…enfim… esquerdices!). É engraçado e triste verificar como, na altura em que o Partido Republicano apresenta um candidato infinitamente melhor do que o, agora de saída, Presidente Bush, perde as eleições para um candidato, infinitamente pior, do que John Kerry (ou mesmo Hillary Clinton…). Eu por mim, na hora da derrota anunciada estou com os “meus”. Estou pois com Jonh McCain. E estou, sempre com um olhar de admiração pelo grande espectáculo da democracia, com a América! God bless it!


sábado, 1 de novembro de 2008

F-1 Em cheio no Porta-Aviões





Clap Clap Clap Clap Clap Clap Clap Clap Clap Clap Clap Clap Clap Clap Clap Clap Clap Clap Clap Clap Clap Clap Clap Clap Clap Clap Clap Clap Clap Clap Clap Clap Clap Clap Clap Clap Clap Clap Clap Clap Clap Clap Clap Clap Clap Bravo! Bravo! Bravo! Bravo! Bravo! Bravo! Bravo! Bravo! Bravo! Bravo! Bravo! Bravo! Bravo! Bravo! Bravo! Bravo! Bravo!





*Com o coração a transbordar de orgulho e admiração e orgulho e admiração. Sempre! Estou aí.