sábado, 9 de maio de 2009

Sobre Odete, sob a calçada

Recebi, há dias, uma carta electrónica em que me eram apresentados os dados apresentados na declaração de rendimentos (relativos a 2005) da ex-deputada do PCP, Odete Santos. Ciente de que nem tudo o que corre pela rede é verdade, procurei confirmar a veracidade de tais dados que, a serem verdadeiros, seriam um verdadeiro escândalo. Escândalo em face da ideologia que a dita Sra. perfilha e defende. Acredito na adequação da nossa conduta às ideias nas quais acreditamos, logo pouco respeito tenho por quem diz uma coisa e faz outra. Julgo até que o que fez nascer em mim uma repulsa tão grande do socialismo foi sempre ter conhecido "socialistas" que só o eram da boca para fora; ou, como gosto de os descrever, socialistas em casa dos outros. Diria até que, verdadeiros socialistas e verdadeiros comunistas, de palavras, actos e acções, são mais raros do que inocentes no Inferno!





Convivo bem com quem perfilhe essas ideologias totalitárias, respeito os que, puramente, as defendem (por mais inacreditáveis que me pareçam, como são os casos do nazismo ou do comunismo) e nelas acreditam. O ideal de democracia que perfilho admite sempre a discordância e a existência respeitosa de todos os que nela não acreditam – se ela é melhor do que essas ideologias é precisamente porque inclui mais do que exclui. O mundo é feito de infinita diversidade e essa é – e sempre foi para mim – a imensa e admirável obra de Deus!






Ora, procurando confirmar esses dados relativos à Sra. D. Odete Santos, descobri que as declarações de rendimentos dos titulares de cargos públicos (obrigatórias por lei), não só não estão acessíveis aos cidadãos comuns, como, muitas das vezes, nem sequer são entregues por quem tem esse dever! E isto merece atenção. A existência de tal declaração parece-me legítima e fundamental numa democracia, visto que é através dela que todos podemos ter a atitude vigilante que se impõe sobre os nossos representantes. E este escrutínio público em nada invade a esfera privada: quem se candidata ou aceita a nomeação para um cargo público, aceita de imediato as regras do jogo – e essas devem primar pela absoluta transparência. É essa uma das regras fundamentais da democracia. Quem não quiser, não aceita, ou não se candidata: é simples! O que temos, pois, no nosso país é perfeitamente inaceitável num regime que se pretende "democrático". Este véu de neblina, esta ocultação do que é público (ou deve sê-lo), só levanta a suspeita de que muito do que por lá se registará (quando se regista, porque ao que parece nem todos cumprem) levantará grandes dúvidas quanto à sua absoluta e estrita legalidade. E por isso fica à guarda dos amigos do tribunal político, digo, do Tribunal Constitucional. À guarda e trancado a sete chaves. Porque será?



5 comentários:

AnAndrade disse...

Ainda que não tenha enfiado o barrete, venho repor a verdade.
Comunismo e nazismo não são a mesma coisa, Luís.
É possível ser de Esquerda, até votar no Partido Comunista, e acreditar na diversidade, na discussão, na tolerância.
Tu sabes que é.
Não conheces nenhum regime dito comunista que não seja totalitário? Boa, eu também não. Mas também não conheço o amor absoluto e acredito que ele exista...

AnAndrade disse...

Com o resto, de acordo.
Ah, e quando digo "repor a verdade", acima, falo de uma verdade, de outra verdade. Não d'A VERDADE, como me parece óbvio...

Kapitão Kaus disse...

Concordo contigo e acho que é muito importante que os senhores representantes dos eleitos prestem contas, com toda a transparência, até porque se são nossos representantes devem-no ser com todas as suas consequências.

Abraço!

Luís P. disse...

Ana: não duvido que acredites que isso é possível. Nunca o duvidei! (acho até que, se o tivesse feito, nunca teria sido teu amigo) Mas eu não acho possivel. Aliás, sempre o achei um lirismo pouco credível. Que queres? Sou um "maquiavélico" por opção e por gosto! Só acredito na política dura, na política da natureza humana, na política do que é. Toda a espécie de utopias me fascinam, mas, ao mesmo tempo me aterrorizam!

Como vês nunca disse que "comunismo" e "nazismo" são a mesma coisa. Mas são dois movimentos idênticos (o que, como sabes, é radicalmente diferente). Têm raízes filosóficas idênticas. Partilham do mesmo caldo cultural, do mesmo desprezo pela liberdade individual e irredutível que eu perfilho. Acho até o comunismo mais preverso em muita coisa, porque mais dissimulado. E porque, no frio cômputo dos números, fez mais vítimas! O nazismo (que é, radicalmente, uma outra forma de socialismo) foi mais arrebatador, como uma explosão, mais rápido na escala do horror. Mas (infelizmente) não acho que o comunismo tenha sido melhor. Não acho que seja melhor. Não acho que alguma das suas formas venha a ser melhor.

São, portanto, para mim, dois irmãos. Dois irmãos que, inclusive (no pacto Hitler/Stalin), não foram tão desavindos quanto a historiografia oficial o quis pintar. O que não quer dizer que não respeite toda e qualquer pessoa que acredite (como tu) que "outra forma" é possível. De um e de outro. Do mesmo modo que respeito quem defende as formas conhecidas. De um e de outro. A democracia para mim é isto. Sem exclusões nem proibições. Condeno do mesmo modo a probição do comunismo na Roménia ou a proibição do nazismo na Alemanha (ou, já que somos portugueses, da "extrema-direita" em Portugal). Ambos acho tontos, anti-democráticos e pior: acho que ambos levarão a uma "martirização" das duas ideologias assassinas. Preferia que a democracia tivesse argumentos para as desmontar e vencer, em vez de as proibir (e assim, sacralizar). Mas isso é uma outra conversa que dá pano para mangas...

Um grande beijo para a minha amiga "comunista" (há outros e outras, mas a "honra" é só tua!) :)

Luís P. disse...

Caro Kapitão: é, não é? Ou melhor: era assim que devia ser, não era?

(aliás, tenho impressão que nas "instruções antes de usar" da democracia dizia que sim, que devia haver transparência... Mas deve ser uma maluqueira do meu famoso mau feitio!)

Grande abraço