À hora em que escrevo, os EUA votam para a eleição do seu novo Presidente. Os “tickets” (como por lá se diz) são basto conhecidos: Obama-Bidden pelo Partido Democrata versus McCain-Palin pelo Partido Republicano (bem, pelo menos são estes os candidatos que têm hipóteses de conseguir votos no Colégio Eleitoral, o que é diferente). Sendo difícil fazer a transposição do sistema político americano para a generalidade dos sistemas europeus (na célebre dicotomia esquerda-direita), não será fácil e taxativo, à partida, ter um candidato –
whatever it might be – se bem que esta expressão só seja possível porque as eleições americanas despertam mais paixões e “adeptos” no mundo, do que, diria, o próprio futebol!
Ora, foi necessário ir aos programas eleitorais e aos discursos. De Mr. Obama abundam os discursos, embora – coisa que me parece que o mundo ainda não percebeu… - todos e cada um deles se resuma em duas ou três ideias gerais, fracas e nada concretas. Ora, por definição, eu sou pouco dado a lirismos políticos, venham eles sob a forma de utopias, venham eles sobre a forma de “caudillos”. Quase sempre isso significa muito sangue derramado, muitos mortos, muito sofrimento, muita pobreza e muita fome. Ou, no melhor dos cenários, muita desilusão. O meu problema com a
Obamania destes tempos, é ela não ser fundamentada em nada de sólido, de concreto, nem que fosse uma promessa eleitoral qualquer. Não. O Sr. esmera-se a falar de “mudança” de “esperança” e de “sonho” sem que isso signifique alguma coisa na vida real. Quer mudar a imagem dos EUA no mundo, mas o máximo que lhe ouvi foi algo como “dar as mãos com os outros povos” para chegar a “entendimentos comuns”… Ora, para quem é considerado um “orador brilhante” (bons “speech writers” e “telepontos” fazem maravilhas!), convenhamos, é muito pouco… ou, no mínimo e com a máxima das boas vontades, infantil – e eu nunca acredito que em política, na grande política, haja
infantilidades… Decidi-me então pelo Sr. McCain. Velho herói de uma guerra perdida, homem conhecido pela verticalidade, pela integridade, pela honestidade, pela honra, tem aquilo que eu aprecio nos políticos: é um homem à antiga, de velhas fidelidades, de velhos valores. E isso é admirável! Além disso tem uma coisa que eu, bom admirador de Churchill, aprecio: o sentido de humor e a capacidade de rir de si próprio - ora, o Sr. Obama nisso é tão técnico quanto os seus discursos: o homem não é um homem, é um mito! O Sr. McCain tem também, obviamente, um programa político que me parece muito mais bem conseguido, muito mais realista e realizável. E tem uma diferença abissal com o Sr. Obama: a questão iraquiana.
Aquando do atentado ao World Trade Center temi a reacção americana. Aliás, à laia de anedota, a minha primeira reacção quando soube do que tinha acontecido (lá para as 18.30, já o mundo estava em choque há horas…) foi pensar em enlatados: em ir comprar enlatados, porque é sempre isso que é mais necessário em tempos de guerra… Começou o ataque ao Afeganistão e encolhi os ombros (embora a questão do “direito de ingerência” seja algo que ainda não resolvi o suficiente comigo-mesmo); depois, foi anunciado o ataque ao Iraque e eu, adepto incondicional da NATO, achei e acho que deveríamos apoiar os nossos aliados, se bem que moderadamente: os EUA e o Reino Unido iam atacar sempre, em qualquer caso, logo tínhamos mais a ganhar com um apoio, mesmo que velado, do que sem ele. Mas nunca pensei que a estratégia para o momento seguinte fosse decalcada da descolonização portuguesa, ou seja, a destruição do Estado implantado. Atacar um Estado, tomá-lo, e depois desmantelá-lo fazendo tábua rasa de tudo o que existia antes, eis, quanto a mim, o grande, o magistral erro da Administração Americana no Iraque. Só que um erro não se resolve com outro erro: o abandono. E é isso que o Sr. Obama propõe para o Iraque. Para ele, a invasão foi um erro (parece consensual, embora, se calhar não pelos mesmos motivos), a estratégia para o pós-ataque foi desastrosa (também consensual), e a solução é abandonar porque não se ganhou à partida, ou seja, em termos muito americanos, repetir a tragédia do Vietname. Isto é: invade-se um país estrangeiro, destrói-se, aniquila-se toda a estrutura estatal desse mesmo país, saqueia-se, e depois abandona-se à sua sorte porque já não interessa… Acho engraçado isto vir do dito candidato de
esquerda, ou talvez não seja assim tão surpreendente… É, de resto, uma posição, mais uma vez (uma mal nunca vem só!!!) alinhada com a descolonização portuguesa – ou como gosto de lhe chamar, vamos-embora-traz-a-bandeira-antes-que-eles-notem. Ora a história serve, precisamente, para aprendermos com ela. A “solução” democrata para o Iraque é uma vergonha e é indigna para uma grande nação como a americana! O proposto é pura e simplesmente abandonar um país destruído à sua boa/má sorte… Não se faz! É, ou deveria ser – pelo menos – um crime contra a humanidade.
Mas pronto, quem decide é o povo americano (coisa estranha e “impossível” de compreender para os “campeões da democracia” na Europa). E esse parece ir atrás dos comentadores deslumbrados com a “imagem” de Obama, com a sua “postura presidencial” e com a sua “cor da pele” (será que ainda não perceberam que em termos de racismo, tão racista é o que não vota no homem porque é mulato, como é aquele que vota por o homem ser mulato…enfim… esquerdices!). É engraçado e triste verificar como, na altura em que o Partido Republicano apresenta um candidato infinitamente melhor do que o, agora de saída, Presidente Bush, perde as eleições para um candidato, infinitamente pior, do que John Kerry (ou mesmo Hillary Clinton…). Eu por mim, na hora da derrota anunciada estou com os “meus”. Estou pois com Jonh McCain. E estou, sempre com um olhar de admiração pelo grande espectáculo da democracia, com a América! God bless it!