sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Da ordem

Olho para os tumultos e a arruaça na Grécia e penso: "é por estas e por outras que eu nunca seria ou serei de esquerda". É mesmo uma impossibilidade visceral. Não consigo achar minimamente justo, sequer aceitável, uma situação como aquela. Aprecio a ordem, a calma pública, a acção seguradora da polícia (para julgar os possíveis abusos da polícia – parece ter sido esse o gatilho da arruaça – existem os tribunais, que é para isso que servem). Acredito mesmo que um dos principais pilares de qualquer Estado de Direito (senão o principal) é a segurança interna, a segurança pública, a segurança de pessoas e bens. Agrada-me a velha ideia liberal oitocentista que metaforizava o Estado no guarda-nocturno. É uma imagem que me sossega, que me pacifica, que me acalma. Talvez isto seja influência de, em tempos de faculdade, ter lido o Leviathan de Thomas Hobbes. Talvez. Mas acho que uma qualquer sociedade, só o é, se sentir segurança. Se se sentir segura. Daí que as questões de segurança interna e justiça sempre me captem a atenção. Daí que não consiga perceber as célebres concepções de esquerda da desculpabilização do criminoso, o qual nunca, mas mesmo nunca, tem culpa dos seus actos: ele só mata, ele só rouba, ele só viola porque a) também lho fizeram a ele; b) é uma vítima da sociedade; c) é pobre; d) tem traumas de infância; e) o raio que os parta! Fico fora de mim quando oiço alarvidades destas, afinal: porque raio há-de alguém ser morto só porque outrem se sente muito injustiçado? Essas balelas (e já nem falo nas psicologices do arco da velha), quando muito, servem para explicar – em certos casos, muito restritos, onde é possível aferir o encadeamento dos factos, e, vá lá, já com muito boa vontade – a raiz do comportamento criminoso, nunca para desculpabilizar. Explicar não é, nem nunca foi, desculpabilizar.


E não sou de esquerda porque acho que o protesto, sendo livre, tem limites. Nomeadamente a vida dos outros. A vida e os seus bens. A partir da primeira pedra arremessada, a partir do primeiro vidro partido, a partir do primeiro risco feito no bem de outrem ou no bem público, podem contar comigo como um firme opositor. Esteja o que estiver em causa! Por muito justa que possa ser a causa, a partir do momento em que há arruaça (ou pior, a partir do momento em que há mortos, coisa muito comum nas guerrilhas e nos sempre auto-proclamados movimentos de libertação) fico fora de mim. Renego e abomino todos os Maios - tão cantados pela esquerda – que por aí vão havendo. Faz-me confusão o estado de sítio, a anarquia, o reino do puro mal e de toda a violência possível. Não percebo como é que partir montras, saquear lojas, ou incendiar automóveis há-de ser uma forma de protesto contra alguma coisa. Se quiserem partam as suas próprias coisas, é simples! Incendeiam os seus automóveis e protestam contra a América. Partem os vidros das suas casas e protestam contra o desemprego (acho sempre curioso um protesto contra uma negatividade, uma ausência). Aí, não tenho nada a ver com isso. Agora, mal pegam numa pedra da calçada, da calçada que também é minha, estão a violar os meus direitos, estão a agredir-me. E quero justiça! Aquilo que se passa na Grécia (e que costumamos ver nos famosos "protestos anti-globalização", vulgo arruaça e anarquia da esquerda globalizada, pouco lavada, e com uma forte tendência para a ladroagem) é pura arruaça. E é nestes momentos que me apetece gritar com Sarkozy que esta gente não passa de racaille! Ou em bom português, não passa de escumalha! Oiço que são estudantes, muitos deles universitários… é que é coisa que nem sequer consigo conceber. Gente que faz isto, gente que se diverte a destruir a vida dos próximos não se chama estudante, não sabe nada, nem sequer algum dia vislumbrou a doce Atena nem numa manhã de nevoeiro: normalmente chama-se "criminoso", ou até, "terrorista". E o que é mais interessante é que, defendendo as supostas ideologias comunitaristas, socializantes e colectivistas (e todas as aspas do mundo eram poucas para ironizar a este respeito), esta gente diverte-se a destruir o sócios, a comunidade, a polis. Logo, são eles o rosto do puro egoísmo interesseiro. O rosto da destruição e da maldade. O rosto da guerra, pois então. Prendam-se e julguem-se! Que respondam pelos seus actos. E que alguém lhes possa ensinar o significado de palavras tais como "liberdade", "democracia", "outro", "respeito"…

Sem comentários: