domingo, 18 de janeiro de 2009

Caldas

Chegado a casa, cansado por uma viagem nocturna debaixo de chuva, mas maravilhado com a beleza e o cheiro a sargaço da "concha" de São Martinho do Porto (bem, para além do belo do Pão-de-Ló de Alfeizerão, que isto de estar ali pertinho justifica o desvio para a gulodice), algumas breves reflexões sobre o XXIII Congresso do CDS/PP, ou sobre mim e a política à portuguesa:



1. Alguns anos após a filiação continuo a achar que faz(fez) sentido: acredito que, em democracia, é nossa obrigação participarmos civicamente onde melhor nos (re)vemos;



2. Continuo a achar que aqui se encontra um belo esboço de programa de governo, e por isso, enquanto aqui se mantiver, também aqui comigo contará;



3. Depois de ser um feroz anti-portista (ainda e apenas como simpatizante e não militante) é engraçado verificar como fiz um caminho pró-portista. É hoje, de longe e de perto, o político português mais venenosamente inteligente e brilhante, o que mais admiro (um dos únicos…), o mais maquiavélico no sentido mais político do termo. E isso, em política, parece-me incontornável. Os que criticam o maquiavelismo das duas uma: ou nunca o leram, ou leram e acreditam em utopias. Graças a Deus fui poupado às duas! Como há tempos ouvi ao Jaime Nogueira Pinto, o maquiavelismo é incontornável não como projecto político (que não o é), mas sim como descrição da política (exactamente como ela é, sem paninhos quentes, sem invenções ou crenças) – a realidade tout court, ou seja, as coisas como elas são.



4. Depois de já alguns anitos disto, continuo sem a mínima pachorra para o ver e ser visto. E para as intervenções sobre o sexo dos anjos. E para a típica intervenção "eu já estive no Congresso do Palácio de Cristal"… Aborreço-me de morte!



5. Assim sendo, por aqui continuarei, até achar que devo, enquanto ainda tiver uma réstia de esperança de que este país tenha emenda/futuro. Quando isso desaparecer (se acontecer) cá estarei para tirar as devidas consequências.



P.S. Foi referida durante o Congresso a difícil situação em que se encontra a Faianças Artísticas Bordalo Pinheiro, Ldª. Já o havia lido no jornal, mas até julgava que a esta altura já existisse forte movimento de indignação pelo possível encerramento desta unidade fabril. Ela é a fiel depositária e herdeira do génio de Raphel Bordallo-Pinheiro, um dos mais geniais criadores portugueses, a quem as artes portuguesas (e não só) devem muitíssimo. Deixar encerrar a fábrica que fundou, a fábrica herdeira dos seus moldes, continuadora da sua obra artística, é algo que Portugal não pode permitir. Não é só o apagamento da memória: é também a morte irreparável de uma técnica que, tendo menor exposição mediática do que outras práticas artísticas, nem por isso deixa de engrandecer o país, de o enriquecer, de o tornar mais belo e mais risonho. O possível encerramento desta fábrica é uma perda irreparável, como se constata pelas fotografias de algumas das peças que fizeram a sua história e, com as quais, aqui ilustro a escritura. Perdê-la só nos cobrirá de, ainda maior, vergonha! E ainda maior tristeza!

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