Há horas em que fico exausto, triste, exaurido, aborrecido, exangue… Canso-me da incessante construção de pontes, da tecelagem infinita de fios que nos unam. Que nos aproximem. Canso-me e chego a julgar não valer a pena. Somos Penélope e Ulisses. Canso-me dos teus estranhamentos e partidas, canso-me dos teus silêncios, canso-me da tua recusa em partilhar o que te atormenta, o que te entristece, o que te magoa. Canso-me de estar sempre em festa, do riso e do siso. Tomo todas as dores de todas as tuas desfeitas, de todas as tuas ingratidões, atolo-me no teu lodo e irrito-me comigo e contigo. Enfastio-me de nós até à náusea.
Há horas assim. Horas em que vivemos uma noite escura. Horas em que nos invade um mar de tristeza. Sem luar nem maresia, só água e solidão. O fastio é tão grande, a noite tão escura, que nem as lágrimas encontram o caminho. Só uma falta de ar, como se toda a tua solidão fosse enxofre e me sufocasse lentamente. Como se toda a tristeza que carregas em silêncio me pesasse no peito até eu não ser capaz de a suportar mais.
Há horas em que me apetece gritar. Contigo e comigo, e ah, dizer tudo o que nunca disse! Tudo o que tenho teimado em deixar por dizer. Chego a achar que o que balbuciasse faria sentido, que a tudo daria forma, que a tudo nomearia exactamente. Horas em que roo a jaula, rosno ao redor e sinto o fio da lâmina nos dentes. Horas do diabo. Horas em que me apetece espantar todos os demónios e corrê-los a todos com um arraial de pancada!
Irra que é demais! Xô mafarricos dum raio que vos parta a todos! Xô! Grandes coiros!!!
© Edvard Munch, Puberty, 1894-1895
1 comentário:
Estou canso, sinto-me cansado e tenho dias que ignoro esse meu estado, hoje não, sinto-me cansado e há mal nisso? Não eu sei...mas nem sempre entendo isso.
*Hugs n' smiles*
Carlos
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