segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Agarra que é S. Nicolau!

Um dia disseram-me que o Pai Natal (o caixeiro-viajante que distribuía as prendinhas do Menino Jesus, ou, como por cá se dizia simplesmente, distribuía o menino jesus) trazia as prendinhas numa grande sacola às costas. Mais: disseram-me que o dito Sr., por uma qualquer parafilia estranha que não me foi explicada, tinha por hábito entrar na nossa casa pela chaminé (a da sala, não a da cozinha, talvez por aquela pouco se acender, não sei!) afim de deixar no sapatinho (um que lá deixávamos todas as vésperas de Natal) as lembrancinhas. Eu, sempre tomado por um espírito inquiridor, muni-me da locomoção e fui à rua olhar para a chaminé... Rapidamente constatei que era impossível um homem (gordo ou magro que fosse) conseguir entrar pelas pequenas ventanas que a coroam, e assim acabei interiormente com um mito que, na minha cabeça, terá durado 15 segundos.

Insatisfeito, concluí que eram necessárias novas investigações com vista a apurar a vera origem dos presentes que me apareciam no sapatinho. Melhor: era necessário perceber porque é que o Menino Jesus, cândido e amistoso como era no presépio por entre grandes pedras e musgo verde, insistia em encher-me o sapatinho de camisolas interiores Termoteb e meias, em vez de chocolates e aquele carrinho de bombeiros...

A busca pouco durou. Num ápice descobri que a gaveta do fundo da cómoda do quarto, aquela que eu não podia abrir porque podia "cair-me em cima", acomodava, escondidos debaixo de umas camisolas, uns embrulhos que já tinha visto no carro, mas que me tinham sido apresentados como presentes para os mais velhos (por outra estranha parafilia, parece que o Menino Jesus só enviava presentes para as crianças, deixando as outras por conta dos grandes).

Xeque-mate!

Agora, o que não percebo é que raio de estória vendem hoje às crianças para justificar que em cada janela, em cada varanda, em cada alpendre, um Pai Natal, munido de uma escada, pareça estar a invadir cada uma, e todas as casas do país! Eu gosto de lhe chamar a epidemia do Pai Natal assaltante, ou do Pai Natal larápio! Se a tradicional estória já era pouco rebuscada, se hoje ainda houver um miúdo que por entre esta parafernália de ícones da Coca-Cola acredite no Pai Natal (já nem falo do Menino Jesus, porque esse, por acaso o que dá origem à festa, foi banido do discurso da iconografia pseudo-politicamente correcta que nos sufoca o espírito a cada minuto), só posso achar que das duas uma: ou é muito crente, mas mesmo muito, ou então é muito estúpido, mas mesmo muito! Ou como hoje se deve diz, "é um pré-adolescente com necessidades educativas especiais"...

1 comentário:

AnAndrade disse...

Sabes o que era giro?? Montarmos uma brigada de bom gosto e surripiar essas coisas dependuradas das janelas. E queimá-las, vá, que tá frio e dava uma bela fogueirinha para a brigada se aquecer.
Isso é que era!