Os factos são bem conhecidos. Os pilares da vetusta Ponte Hintze Ribeiro não aguentaram o peso do seculum e cederam precisamente à passagem daquelas almas banhadas da beleza da criação. Os inquéritos deram o de sempre: nada. A culpa, já habituada à má fama, lá foi morrer solteira para o seu triste e solitário canto habitual. Os que cá ficaram tiveram a sua boca "adoçada" pelas palavras licenciosas dos políticos e pelos cheques convertidos em "investimento público" na região. O tempo correu, como corre sempre, o Douro escorreu, como escorre sempre, e o fundo das águas deu o merecido repouso a quem as teve como última casa no mundo. Como é óbvio nunca foram apurados culpados, porque em Portugal nunca há culpa: há apenas uma ligeiríssima impressão maçadora que passa com o silêncio. E o tempo.
Eis que de repente ouvimos dizer que as famílias receberam uma conta astronómica (li algo à volta de 400 mil euros em custas judiciais) para pagar. Rapidamente houve quem viesse desmentir e dizer que "afinal são só cerca de 57 mil euros"… É nestas alturas que acho que a falta de vergonha na cara e de decência é ilimitada!!! Quer dizer, para além da perda (irreparável) dos familiares, para além de todo o tempo que passou, para além de ninguém pagar (e exemplarmente!) pela culpa que teve, ainda têm de pagar ao excelso Estado que nada fez para os proteger (como era seu dever) ou para os redimir (como era seu dever). O Estado Português converteu-se, definitivamente, num estado vadio. Um Estado falhado. Um Estado sem palavra nem honra. Um Estado ladrão. Um Estado cúmplice de assassínio e extorsão! É disto que se trata. Exigir custas a quem, simplesmente, exigia que o Estado fizesse o seu papel – que fosse Estado, em suma – é simplesmente inacreditável e inaceitável! Se é para isto, então mais vale mesmo entregar as chaves em Badajoz e pedir asilo… Começa a ser demais para valer a pena!
P.S.1. Ouvi também, a propósito disto, uns pedidos ao Sr. Presidente da República e a Sua Excelência o Sr. Ministro da Justiça, no sentido de Suas Excelência moverem a sua influência para que as ditas custas sejam perdoadas (ou assumidas pelo Estado como, me parece, é seu dever e obrigação!). Macacos me mordam se este pedido, e o seu eventual atendimento pelas altíssimas figuras acima mencionadas, não configura o esboroar do que resta da separação de poderes!!! Quer dizer: a Justiça, a douta Justiça decide e o poder legislativo intervém noutro sentido… devo ser eu que não estou bem a ver a coisa…
P.S.2. Parece-me que os nossos agentes judicias andam a precisar de umas aulinhas básicas sobre a Justiça e o Justo. "O que é a justiça?", "O que é o justo?", "Qual a diferença entre o justo e o conforme à lei?", "O injusto do justo", eis alguns dos temas que poderiam ser aprofundados, e que eu, generosa e justissimamente, desde já proponho. E quem diz "aprofundados", diz estudados pela primeira vez; algo me diz que nunca nos nossos tribunais se ouviu falar de tais esoterismos e minudências…
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