Já aqui falei da minha pulsão por tudo o que possa ser considerado por muitos como lixo. Nada como um programa do tipo reality show, ou uma musiquinha pimba, para me encherem as medidas e me deixarem às gargalhadas por horas a fio! Eu sei que deve haver cura para casos perdidos como o meu, mas enquanto não se tornar impeditivo da vida normal é apenas uma filia como outra qualquer (e que grandes momentos de riso me proporciona!). Encontrei há pouco (ou melhor, reencontrei há pouco, porque em tempos que já lá vão, muito já tinha ouvido isto a outros padecentes do mesmo mal!) uma canção do Graciano Saga que, não sendo um clássico reconhecido pela crítica (o que é manifestamente injusto!), arrisca-se a sê-lo no campo do kitch (bem, ou pelo menos de algum fetichismo kitch…). Adiante! Esta peça é, na sua essência, um exemplo de pura poesia popular, ou seja, um exemplo claríssimo do pop português. Tudo nela apela ao sentimento, tudo nela apela à vida simples, à vida de todos os dias dos emigrantes de retorno à pátria, à tragédia dos dias comuns, sendo, por aí e também, uma clara citação da Odisseia… De alguma maneira, pelo menos…
Ora, atentai na pérola que aqui vos deixo, que nada deve à malinha de cartão de Linda de Suza (ess'outro mito!)...
« "Imigrante vem devagar por favor, temos muito tempo para lá chegar e depois, lá diz o velho ditado: mais vale um minuto na vida, do que a vida num minuto."
Passou-se no mês de Agosto,
este drama tão cruel
de um imigrante infeliz
Foi tanta a pouca sorte,
na estrada encontrou a morte
quando vinha ao seu país
Do trabalho veio a casa,
preparou a sua mala
e partia da Alemanha
Mas seu destino afinal
acabou por ser fatal
numa estrada em Espanha
Dizem aqueles que viram
que ele ia tão apressado
a grande velocidade
Foi o sono que lhe deu
o controlo ele perdeu
desse carro de maldade
Foi o sono que lhe deu
o controlo ele perdeu
desse carro de maldade
Trazia na sua mente
ir ver o seu pai doente
que estava no hospital
Na ideia um só pensar
o seu paizinho beijar
ao chegar a Portugal
Mas tudo foi de repente
partiu de Benavente
o drama aconteceu
Ele vinha tão cansado
de tanto já ter rolado
e então adormeceu
Nada podendo fazer
num camião foi bater
e deu-se o choque frontal
Seu carro se esmagou
e desfeito ele ficou
num acidente mortal
Seu carro se esmagou
e desfeito ele ficou
num acidente mortal
Ele não vinha sozinho
trazia também consigo
sua mulher e filhinho
Sem dar conta de nada
e naquela madrugada
morrem os três no caminho
Quando a notícia chegou
no hospital alguém contou
o desastre que aconteceu
Seu pai que tanto sofria
nunca mais o filho via
fechou os olhos morreu
Imigrantes oiçam bem
não vale a pena correr
porque pode ser fatal
Venham todos devagar
há tempo para cá chegar
e abraçar Portugal
Venham todos devagar
há tempo para cá chegar
e abraçar Portugal »
Graciano Saga
3 comentários:
Absolutamente delicioso...!
Também gosto muito do "Abandonada", da senhora dona Ágata, embora fique muito a dever a esta saga trágica, bem sei...
(Não percebo porque só tenho acesso às tuas postagens de mês a mês... Ou seja: até hoje, o teu blogue aparecia-me com o post da véspera das Europeias, achas isto normal?!)
Ahhhh, então e a Sra. D. Mónica Sintra???? É uma vítima da sociedade, a pobre da rapariga! :D
(Não faça ideia... mas talvez tenha a ver com o facto de eu fazer publicações "por atacado" de vários dias... se calhar o sistema "baralha-se" - eles nunca foram muito escorreitos... os sistemas! ;) )
Beijo
E a Romana, esse ícone do estilo e do bom gosto? Já nem falo da Ana Malhoa, essa ultra-sexy que lidera, nas visitas ao seu site (porquê?, meus deuses, é o que me pergunto...)
Bacci!
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