A minha periquita morreu esta manhã. Caiu do poleiro e a vida esvaiu-se do seu pequeno corpo amarelo em pouco tempo. Partiu de manhã, na manhã do aniversário (não haverá palavra mais adequada, mais certeira, menos festiva, menos alegre, para dizer os aniversários das mortes, das mortes da vida?) da morte da minha Tia - a sua "dona" favorita. Partiu de manhã, como todos os que amamos, gente ou bicho, parte sempre de manhã, de manhãzinha, sempre cedo demais, sempre antes da hora, sempre apressado. Partiu numa manhã de sol, uma manhã igual a outra de há dois anos. Nessa, o ar esvaziou-me o peito e, não fosse a janela estar perto, certamente também eu teria ido com a manhã. De manhã. Demasiado de manhã. Nesta, o choro irrompeu-me como quando era pequeno e esfolava os joelhos. E é pequeno que me sinto, pequeno de mais, demasiado matutino, demasiado ferido, demasiado exposto, demasiado pequeno. Sinto-me como um diplópode espiralado, enrolado à minha volta, defensivo e exposto, para parecer grande, para parecer temporão. Como um ouriço-cacheiro (hérisson, Igel, istriche) que, pressentindo o perigo, se enrola sobre si mesmo. Protege-se, submetendo-se ao perigo, expondo-se ao perigo, sem sequer o ver chegar. Sempre cedo, numa manhãzinha, sempre demasiado cedo.
E, sim, acaba sempre por chegar, e sempre antes da hora, e não podemos (nunca, nunca, nunca) impedi-lo. Sei-o e soube-o de madrugada, demasiado de madrugada. Por mais que tentemos (tentemos, tentemos, tentemos), por mais que procuremos escudar-nos, levantar os espinhos, enrolar-nos sobre nós e esperar que passe ao lado, chega sempre. Sempre. Demasiadamente sempre.
Hoje veio e estou triste. Por isso me enrolo. Para levar calor ao coração, porque a manhã foi fria. Para aquecer o coração, porque a tarde tarda. Para tatuar um abraço à minha volta.
E, sim, acaba sempre por chegar, e sempre antes da hora, e não podemos (nunca, nunca, nunca) impedi-lo. Sei-o e soube-o de madrugada, demasiado de madrugada. Por mais que tentemos (tentemos, tentemos, tentemos), por mais que procuremos escudar-nos, levantar os espinhos, enrolar-nos sobre nós e esperar que passe ao lado, chega sempre. Sempre. Demasiadamente sempre.
Hoje veio e estou triste. Por isso me enrolo. Para levar calor ao coração, porque a manhã foi fria. Para aquecer o coração, porque a tarde tarda. Para tatuar um abraço à minha volta.
Hoje veio e levou a Patchoca. E estou triste. Pronto.
1 comentário:
A morte é puta.
Vem sempre cedo.
Ou demasiado tarde.
A morte é puta.
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