segunda-feira, 27 de outubro de 2008

One night stand

Um olhar. Um impulso. Um desejo a arder à flor da pele, a excitação da conquista, o atordoar da presa - sempre a caça presente. Sempre o instinto e o genoma a levar a melhor.



Alvorada. O suor frio escorrega ainda nas coxas. Um olhar. Um impulso. A vontade escorrida pelo chão. As calças vestidas à pressa. Uma frase que nasce a morrer no bater de uma porta.


One night stand. Once more, one night stand. Todo o desejo contido numa noite. Toda a carne do mundo num abraço. Todos os beijos do mundo numa boca. A busca incessante. A busca sem parar. Sem abrandar. A busca da surpresa, do arrebatamento. A procura, o desejo inconfessado de que aquela seja a última caçada, que aquele seja o encontro da terra. O desejo de um lugar, de uma casa, um espaço para o qual voltar, um espaço ao qual se regresse. A festa nos gestos, toda a esperança a viver no olhar. O fim da caminhada à vista, ali, já ali. Uma primeira vez para todas as primeiras vezes. Uma noite que cante todas as noites. As sandálias a amarelecerem cobertas de pó – imóveis.

One night stand. Once more, one night stand. Todo o medo do mundo a abraçar, a arrefecer os ossos. Fria, a manhã, gelado o olhar. Toda a solidão a encher os cantos. A busca incessante. O desejo de partir, de avançar, de continuar. O engano, mais uma vez, o engano a doer. Siga-se caminho com a vergonha da derrota, a vitória espera os audazes – pelo menos eles assim o sonham. A desilusão a amargar na boca, o susto da queda ainda a atordoar. Todos os passos do mundo num passo. O desejo adormecido, enroscado em si, perdido numa dobra do lençol. Um telefone que não pára de tocar, uma resposta que não se quer dar, que não se tem. Tudo já foi dito. Só restam algumas vírgulas abandonadas e solitárias. Tudo já foi dito.

Once more.

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