sábado, 26 de setembro de 2009

_um perfeito coração_

Porque esta (também) foi a música dos nossos dias.






quinta-feira, 17 de setembro de 2009

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Tiptoe

(...)
You feel good
You feel right
You're so good

Tiptoe
Over me
Tiptoe
(...)





sábado, 5 de setembro de 2009

Soneto de fidelidade

De tudo ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento

E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.

Vinicius de Moraes




sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Paiol do ouro*

Oxum, Deusa das Águas
Sereia, cantora, Rainha
Reges a minha garganta
De onde nasce esse som
Te oferto perfumes e flores
Por teres me dado esse dom


Maria Bethânia






* (suddenly in my head)

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

...

...Apesar de tudo. E por tudo. Nunca. Nunca o farei. Agora deita aqui e descansa. Nunca o farei, já disse (mesmo que quisesse não conseguiria...). Nunca!


E sempre. Sempre o farei. Sempre, já disse (mesmo que não o quisesse não conseguiria...).

Clap Clap Clap

Khôra faz anos. É já uma menina. É pequenina, na indefinição dos seus limites, das suas peles. Hoje, só para a festa - a festa é também uma maneira de khôra ser - veste-se de vestido com laços e toma a forma de uma menina. Uma menina que é uma voz, um espaçamento, um abrir de um lugar. Uma menina que cresce e que cria e recria o seu - um novo? - mundo. Uma menina por entre serpentinas e confetis e fogo de artifício. Uma menina a soprar uma vela. Uma menina de rosto posto nas rugas das mãos.




Entrava a fermosíssima Maria
Polos paternais paços sublimados,
Lindo o gesto, mas fora de alegria,
E seus olhos em lágrimas banhados.
Os cabelos angélicos trazia
Pelos ebúrneos ombros espalhados.
Diante do pai ledo, que a agasalha,
Estas palavras tais, chorando, espalha:

«Quantos povos a terra produziu
De África toda, gente fera e estranha,
O grão Rei de Marrocos conduziu
Pera vir possuir a nobre Espanha:
Poder tamanho junto não se viu,
Despois que o salso mar a terra banha.
Trazem ferocidade e furor tanto
Que a vivos medo e a mortos faz espanto.

Aquele que me deste por marido,
Por defender sua terra amedrontada,
C'o pequeno poder, oferecido
Ao duro golpe está da Maura espada.
E, se não for contigo socorrido,
Ver-me-ás dele e do Reino ser privada;
Viúva e triste e posta em vida escura,
Sem marido, sem reino e sem ventura.

Portanto, ó Rei, de quem com puro medo
O corrente Muluca se congela
Rompe toda a tardança, acude cedo
À miseranda gente de Castela.
Se esse gesto que mostras, claro e ledo,
De pai o verdadeiro amor assela,
Acude e corre, pai, que, se não corres,
Pode ser que não aches quem socorres».

Não de outra sorte a tímida Maria
Falando está que a triste Vénus, quando
A Júpiter, seu pai, favor pedia
Pera Eneas, seu filho, navegando;
Que a tanta piedade o comovia
Que, caído das mãos o raio infando,
Tudo o clemente Padre lhe concede,
Pesando-lhe do pouco que lhe pede.


Luís Vaz de Camões, Os Lusíadas, Canto III (estrofes 102-106)

O lápis azul é aqui!

O que é que faz com que uma empresa de serviço público - a TVI - (nunca perceberei essa mania de que só é “serviço público” o que for pago pelos impostos e administrado pelo Estado) suspenda um dos seus produtos mais rentáveis (o "Jornal Nacional de 6ª") sem apelo nem agravo nem sequer justificação? E sim, a sua administração tem todo o direito a mudar o que bem lhe aprouver, como empresa que é (seja ela de capitais públicos, privados, cooperativos, etc). Agora quando as decisões dessa empresa de serviço público são:

a) contra toda a racionalidade económica (a suspensão do Jornal Nacional de 6ª, líder de audiências e alavanca - mais uma! - do horário nobre esmagador da TVI, é tão disparatada financeiramente como a suspensão das novelas compactadas desse mesmo horário nobre e a sua substituição por missas em diferido);

b) conformes à vontade do Governo (o Primeiro Ministro disse-o na Assembleia da República muito claramente: a orientação editorial da TVI tinha de mudar. Disse-o também nas várias entrevistas que deu: o jornal da TVI era incómodo para o Governo e para a sua pessoa em particular);

c) tomadas à pressa (se era para suspender o programa, porquê deixar a equipa estar a prepará-lo até à véspera? Isso tem alguma racionalidade? Porque não o anúncio de uma alteração da grelha pós Verão?);

então permitam-me que concorde que ali há gato. Porque – simplesmente - não faz sentido nenhum (em termos empresariais). Ou melhor: faz todo o sentido (em termos políticos).

O lápis azul está a passar por aqui. (ou não fosse o regime um fiel herdeiro das repúblicas que o precederam. Da primeira. E da segunda.)

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Canção das horas nº 28


(...)
You took the part that once was my heart
So why not take all of me.




terça-feira, 25 de agosto de 2009

Let's dance for mercy!

Yeah Yeah Yeah
Yeah Yeah Yeah
Yeah Yeah Yeah
Yeah Yeah Yeah

I love you
But I gotta stay true
My morals got me on my knees
I’m begging please stop playing games

I don’t know what this is
‘Cause you got me good
Just like you knew you would
I don’t know what you do
But you do it well
I’m under your spell

You got me begging you for mercy
Why won’t you release me
You got me begging you for mercy
why won’t you release me
I said release me

Now you think that I
Will be something on the side
But you got to understand
That I need a man
Who can take my hand yes I do

I don’t know what this is
But you got me good
Just like you knew you would

I don’t know what you do
But you do it well
I’m under your spell

You got me begging you for mercy
Why wont you release me
You got me begging you for mercy
Why wont you release me
I said you’d better release

I’m begging you for mercy
Yes why won’t you realse me
I’m begging you for mercy
You got me begging
You got me begging
You got me begging


Duffy




quarta-feira, 12 de agosto de 2009

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Restauração


Parabéns aos bravos Heróis que às primeiras horas da madrugada restauraram a legalidade! Viva o Rei! Viva Portugal!

The very thought of you*

The very thought of you and I forget to do
The little ordinary things that everyone ought to do
Im living in a kind of daydream
Im happy as a king
And foolish though it may seem
To me thats everything

The mere idea of you, the longing here for you
Youll never know how slow the moments go till Im near to you
I see your face in every flower
Your eyes in stars above
Its just the thought of you
The very thought of you, my love


Ray Noble




* "Do coração para a cabeça e da cabeça para o coração". Sempre. Para sempre. À toujours...









The Very Thought of You - Nat King Cole

quinta-feira, 30 de julho de 2009

quarta-feira, 29 de julho de 2009

If the stars were mine

If the stars were mine
I'd give them all to you
I'd pluck them down right from the sky
and leave it only blue
I would never let the sun forget to shine upon your face
so when others would have rain clouds you'd have only sunny days
If the stars were mine
I'd tell you what I'd do
I'd put the stars right in a jar and give them all to you


If the birds were mine
I'd tell them when to sing
I'd make them sing a sonnet when your telephone would ring
I would put them there inside the square, whenever you went out
so there'd always be sweet music whenever you would walk about
If the birds were mine
I'd tell you what I'd do
I'd teach the birds such lovely words and make them sing for you

I'd teach the birds such lovely words and make them sing for you

If the world was mine
I'd paint it gold and green
I'd make the oceans orange for a brilliant color scheme
I would color all the mountains, make the sky forever blue
So the world would be a painting and I'd live inside with you
If the world was mine
I'd tell you what I'd do
I'd wrap the world in ribbons and then give it all to you

I'd teach the birds such lovely words and make them sing for you
I'd put those stars right in a jar and give them all to you.



Melody Gardot



segunda-feira, 20 de julho de 2009

Green Grass


Lay your head where my heart used to be
Hold the earth above me
Lay down in the green grass
Remember when you loved me

Come closer don't be shy
Stand beneath a rainy sky
The moon is over the rise
Think of me as a train goes by

Clear the thistles and brambles
Whistle 'Didn't He Ramble'
Now there's a bubble of me
And it's floating in thee

Stand in the shade of me
Things are now made of me
The weather vane will say
It smells like rain today

God took the stars and he tossed them
Can't tell the birds from the blossoms
You'll never be free of me
He'll make a tree from me

Don't say good bye to me
Describe the sky to me
And if the sky falls, mark my words
We'll catch mocking birds


Lay your head where my heart used to be
Hold the earth above me
Lay down in the green grass
Remember when you loved me
Remember when you loved me
Remember when you loved me






Tom Waits by Cibelle















quarta-feira, 15 de julho de 2009

Odisseia


Gil,


You know I love you. I feel I've loved you forever.

Lately I haven't been feeling very well. Truth be told, I'm tired.

Out in the desert, under that car that night, I realized something and I haven't been able to shake it.

Since my father died, I spent almost my entire life with ghosts. We've been like close friends and out there in the desert, it occurred to me, that it was time for me to bury them. I can't do that here.

I'm so sorry.

No matter how hard I try to fight it off, I'm left with a feeling that, I have to go. I have no idea where I'm going, but I know I have to do this. If I don't, I'm afraid I'll self-destruct, and worse, you'll be there to see it happen. Be safe.

Know that I tried very hard to stay. Know that you are my one and only. I will miss you with every beat of my heart. Our life together was the only home I've ever really had. I wouldn't trade it for anything.

I love you...I always will.



Goodbye.





"Sara Sidle goodbye letter to Grissom", CSI Las Vegas, Season 8, "Goodbye and good luck".







quarta-feira, 8 de julho de 2009

terça-feira, 7 de julho de 2009

Cosmia

when you ate I saw your eyelashes
saw them shake like wind on rushes
in the corn field when she called me
moths surround me - thought they'd drown me

and I miss your precious heart...

dried rose petal, red-brown circles
framed your eyes and stained your knuckles

and all those lonely nights down by the river
brought me bread and water (water, in)
but though I tried so hard, my little darling
I couldn't keep the night from coming in

and all those lonely nights down by the river
I was brought my bread and water by the kith and the kin
now in the quiet hour when I am sleepin'
I cannot keep the night from comin' in

why've you gone away, gone away again?
I'll sleep through the rest of my days
if you've gone away again

sleep through the rest of my days...

why've you gone away, away?
seven suns, seven suns
away, away, away, away

can you hear me? will you listen?
don't come near me, don't go missing
in the lissome light of evening
help me, Cosmia, I'm grieving

beneath the porch light, we've all been circling
beat our dust hearts, singe our flour wings
but in the corner, something is happening!
wild Cosmia, what have you seen?

water were your limbs, and the fire was your hair
and then the moonlight caught your eye
and you rose through the air
well, if you've seen true light, then this is my prayer:
will you call me when you get there?

and I miss your precious heart
and miss, and miss, and miss
and miss, and miss, and miss
and miss, and miss your heart
but release your precious heart
to its feast, for precious hearts



Joanna Newsom



domingo, 5 de julho de 2009

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Dez




Dez vezes te digo



dez vezes te digo



dez vezes te digo



dez vezes te digo



dez vezes te digo



dez vezes te digo



dez vezes te digo



dez vezes te digo



dez vezes te digo



dez vezes te digo que te amo






e uma vez mais te adoro.













© Marcelo Maimoni

quarta-feira, 1 de julho de 2009

graças

"gosto de caminhar em silêncio. às vezes, tenho medo e choro no escuro. há dias em que sei que nada é mais exacto do que a alegria. comove-me a bondade verdadeira, que actua escondida. café. donuts. coca-cola. caracóis e cerveja no verão. viajar. gosto de voltar às origens. ser criança. rir. ser tolo e dizer só tolices. praia. mar. amigos. de repetir mentalmente os versos do mundo. áfrica no coração, na pele, nos sentidos. a noite escura de são joão da cruz. o inverno em praias desertas. acredito no poder das mãos unidas. dorminhoco e preguiçoso. música para respirar. tori amos e a "cooling". acredito que duas pessoas podem existir com força bruta uma para a outra mesmo no silêncio e na distância. acredito que há outras que falam mais do que deviam. acredito que há desertos imensamente duros na vida. acredito na infância do coração. acredito na bondade, acredito na rectidão. admiro os inocentes por discernimento. acredito na esperança. acredito que, no final, vamos saber tudo o que deveríamos ter sabido pelo caminho. acredito que estamos sempre muito perto de perder tudo. mas sei que tudo isto perde validade e se subverte, quando acredito ainda mais no Amor e nos Mistérios."

C.





_parabéns C.

Canção das horas nº 22


terça-feira, 30 de junho de 2009

segunda-feira, 29 de junho de 2009

As asas

Tocou-me uma assombrosa santidade
E senti o agitar das suas asas
Sobre mim. Erguendo-me acima das coisas
Os dedos entrelaçados nos meus
As asas sobre mim agitando-se ao passar
Não sei de nada igual, senão talvez
O vento a esvoaçar entre os pinheiros
Na meia-sombra da lua ausente
Um vento que pressiona
e que não beija
Mas se agita, suave como a luz
Dos raios do crepúsculo nas veredas
Mas isso é pouco nobre e não é santo...
Seus dedos pousaram nos meus em bênção fremente
E por cima o agitar de asas tão sagradas.



Ezra Pound








© Alvin Langdon Coburn, Vortografía de Ezra Pound, 1917

domingo, 28 de junho de 2009

Migrações kitch


Já aqui falei da minha pulsão por tudo o que possa ser considerado por muitos como lixo. Nada como um programa do tipo reality show, ou uma musiquinha pimba, para me encherem as medidas e me deixarem às gargalhadas por horas a fio! Eu sei que deve haver cura para casos perdidos como o meu, mas enquanto não se tornar impeditivo da vida normal é apenas uma filia como outra qualquer (e que grandes momentos de riso me proporciona!). Encontrei há pouco (ou melhor, reencontrei há pouco, porque em tempos que já lá vão, muito já tinha ouvido isto a outros padecentes do mesmo mal!) uma canção do Graciano Saga que, não sendo um clássico reconhecido pela crítica (o que é manifestamente injusto!), arrisca-se a sê-lo no campo do kitch (bem, ou pelo menos de algum fetichismo kitch…). Adiante! Esta peça é, na sua essência, um exemplo de pura poesia popular, ou seja, um exemplo claríssimo do pop português. Tudo nela apela ao sentimento, tudo nela apela à vida simples, à vida de todos os dias dos emigrantes de retorno à pátria, à tragédia dos dias comuns, sendo, por aí e também, uma clara citação da OdisseiaDe alguma maneira, pelo menos…



Ora, atentai na pérola que aqui vos deixo, que nada deve à malinha de cartão de Linda de Suza (ess'outro mito!)...





« "Imigrante vem devagar por favor, temos muito tempo para lá chegar e depois, lá diz o velho ditado: mais vale um minuto na vida, do que a vida num minuto."

Passou-se no mês de Agosto,
este drama tão cruel
de um imigrante infeliz
Foi tanta a pouca sorte,
na estrada encontrou a morte
quando vinha ao seu país
Do trabalho veio a casa,
preparou a sua mala
e partia da Alemanha
Mas seu destino afinal
acabou por ser fatal
numa estrada em Espanha
Dizem aqueles que viram
que ele ia tão apressado
a grande velocidade
Foi o sono que lhe deu
o controlo ele perdeu
desse carro de maldade

Foi o sono que lhe deu
o controlo ele perdeu
desse carro de maldade

Trazia na sua mente
ir ver o seu pai doente
que estava no hospital
Na ideia um só pensar
o seu paizinho beijar
ao chegar a Portugal
Mas tudo foi de repente
partiu de Benavente
o drama aconteceu
Ele vinha tão cansado
de tanto já ter rolado
e então adormeceu
Nada podendo fazer
num camião foi bater
e deu-se o choque frontal
Seu carro se esmagou
e desfeito ele ficou
num acidente mortal

Seu carro se esmagou
e desfeito ele ficou
num acidente mortal

Ele não vinha sozinho
trazia também consigo
sua mulher e filhinho
Sem dar conta de nada
e naquela madrugada
morrem os três no caminho
Quando a notícia chegou
no hospital alguém contou
o desastre que aconteceu
Seu pai que tanto sofria
nunca mais o filho via
fechou os olhos morreu
Imigrantes oiçam bem
não vale a pena correr
porque pode ser fatal
Venham todos devagar
há tempo para cá chegar
e abraçar Portugal

Venham todos devagar
há tempo para cá chegar
e abraçar Portugal
»


Graciano Saga


sábado, 27 de junho de 2009

Cinema paradiso

Houve um tempo em que o cinema era com actores e actrizes. Bruto, seco, rude, sem efeitos espectaculares fantásticos, sem magias de algibeira e varinhas de condão. Houve um tempo em que o cinema era (como o diria Manoel de Oliveira que ainda o faz) teatro filmado. Isto é, tão simplesmente, palavra animada, texto, densidade, textura, profundidade (da palavra e da imagem) sem excessos, sem pontas soltas, sem desperdícios - tudo concorrendo para a obra final (o texto, a decoração, a banda sonora, os planos, a iluminação, a fotografia, o guarda-roupa, os actores). Houve um tempo em que o cinema era avassaladoramente adulto. Houve um tempo em que o cinema amadureceu e se tornou vida. Houve um tempo em que este cinema abarrotava as inúmeras salas e era "comercial". Houve um tempo em que o que interessava era a narrativa contada e não o custo.


Era um tempo de requinte aristocrático. Um tempo do sonho. Um tempo a correr por entre os dedos... Em homenagem a esse tempo. Em homenagem a um dos grandes realizadores cinematográficos que a Europa (e o mundo) conheceu - Luchino Visconti. Em homenagem ao meu realizador italiano favorito. Em homenagem ao tempo do leopardo...





Canção das horas nº 21

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Em terra de Lacan, espeto de pau

Sempre me inquietaram as pessoas (ou instituições) que se julgam superiores às outras. Sempre me irritaram esses comportamentos e esses pensamentos. Mais do que a arrogância, o que mais me irrita é a sobranceria, a displicência, a triste presunção de superioridade. E a esquerda está impregnada dela. Poderíamos dizer que isso só acontece em Portugal devido às vicissitudes do processo revolucionário do qual ainda vivemos o rastro, que enviesou estranha e perniciosamente a sociedade para a esquerda. Mas não. Pelos vistos, não é só cá.


Acabo de escutar algumas declarações da esquerda francesa (a famosíssima e "reputadíssima" gauche, a tal que deu origem à própria designação – o que será sintomático!) e não me canso de ficar espantando. Saídos de uma imensa derrota eleitoral (uma das premissas base da esquerda é muito simples: os eleitores são sempre esclarecidíssimos e vanguardistas quando votam à gauche, e os mesmos eleitores são sempre burros, atrasados, perigosos para a democracia, xenófobos, racistas e afins quando votam à droite) nas recentes eleições europeias, a esquerda europeia (e a francesa muito particularmente) parece não ter aprendido nada! Comentando a remodelação governamental operada pelo Presidente Francês, Nicolas Sarkozy, duas posições foram vincadas. Uma diz que a remodelação nada vem mudar porque vem continuar "a política liberal que conduziu à grave crise que vivemos"; talvez seja bom alguém explicar a esses senhores que os eleitores, ou seja, o povo soberano (na melhor tradição rousseauniana) votou por essa "política liberal" (seja isso o que for no contexto continental europeu) contra – precisamente – a alternativa (só a palavra já me faz rir!) socialista (englobando aqui todas as esquerdas por processo simplificativo); logo, convém que aprendam a viver em democracia e passem a respeitar os resultados das eleições livres, caso contrário – aí sim! – poderemos falar de um ataque à democracia, ou, no mínimo, uma má relação da esquerda com a vivência democrática sempre que ela a afasta do poder. A outra considera "gravíssimo" que um sobrinho (a política e os negócios das polis europeias parecem estar pejadas de tios e sobrinhos…) do antigo Presidente Mitterrand (socialista) "aceite governar ao lado de Sarkozy", acrescentando que os ossos do antigo Presidente devem estar a dar voltas na tumba. Sem tecer mais considerações com o aspecto mais esotérico das afirmações, o que mais choca é ser-lhes totalmente inconcebível conceber a diferença, o pensamento diferente, a oposição (tout court). E isto agravado pela obrigação familiar em estar do "único lado da verdade", presumo…! Talvez seja (igualmente) bom alguém dizer-lhes quem foi o Presidente Mitterrand e quais alguns dos seus actos (como o atentado contra o Rainbow Warrior ordenado por" tão casta e venerável figura" – o ambiente é sempre uma flor da lapela da esquerda).




Ou seja: talvez seja melhor a esquerda francesa (e já agora a europeia) começar a frequentar os consultórios de psicanálise e similares. É que a recusa da realidade e a criação de um mundo paralelo começam a ser por demais evidentes e por demais patológicos! Eu, com sobranceria, até já começo a ficar constrangido!...








© Sofá de Freud.

domingo, 21 de junho de 2009

El pastorcico

Un pastorcico solo está penado,
ajeno de placer y de contento,
y en su pastora puesto el pensamiento,
y el pecho del amor muy lastimado.

No llora por haberle amor llagado,
que no le pena verse así afligido,
aunque en el corazón está herido;
mas llora por pensar que está olvidado.


Que sólo de pensar que está olvidado
de su bella pastora, con gran pena
se deja maltratar en tierra ajena,
el pecho del amor muy lastimado.


Y dice el pastorcito: ¡Ay, desdichado
de aquel que de mi amor ha hecho ausencia
y no quiere gozar la mi presencia,
y el pecho por su amor muy lastimado!


Y a cabo de un gran rato se ha encumbrado
sobre un árbol, do abrió sus brazos bellos,
y muerto se ha quedado asido dellos,
el pecho del amor muy lastimado




San Juan de La Cruz





© Salvador Dali, Cristo de São João da Cruz, 1951

sexta-feira, 19 de junho de 2009

Shahanshah*

Quando era pequeno a Pérsia evocava-me um reino maravilhoso. O reino dos tapetes e do exotismo. Cresci ainda sobre o choque que a Revolução dos Aiatolas provocara por , provocando a queda desse rasgo de modernidade que significava o Xá Mohammad Reza Pahlavi (e da Imperatriz Farah Diba, símbolo de elegância entre as senhoras de casa). Nunca por cá se usou o termo Irão sem logo acrescentar, "a antiga Pérsia", como se isso fosse um símbolo de resistência em face da barbárie islamita. Talvez por isso, ainda hoje, eu prefira usar o termo Pérsia (ocidental, bem o sei, mas que fazer? É essa a minha (in)condição!), recusando sempre o termo Irão – na minha cabeça o Irão é a terra dos Aiatolas, e a Pérsia a terra do Trono do Pavão, dos Xás, de Sherazade e das mil e uma noites. A terra do sonho e da fantasia, ou, se quisermos, a terra da poesia: ouvi recentemente que, por lá, é costume as famílias reunirem-se em torno dos túmulos dos poetas – situados em belos jardins, ou não fosse aquela a terra da Babilónia – para lhes honrarem a memória e lhes lerem poemas. Essa é uma bela e romântica imagem da Pérsia, que me agrada e que acarinho. Talvez para esquecer a confusão que o fanatismo me causa. Talvez para esquecer que um dos nossos berços está entregue às mãos de gente de vistas curtas, gente de burcas e de mãos cortadas. Talvez para esquecer que a Pérsia está transformada no Irão.


O que me consola é que há sempre esperança. Por mais que tentem, por mais que limitem, a esperança cresce sempre, resiste sempre. É, talvez, a matriz daquelas terras que clama uma liberdade perdida. É uma cultura milenar, é uma cultura de um dos grandes impérios de sempre (e uma das mais prósperas de sempre) que se quer libertar das amarras fundamentalistas que, uma certa leitura do islão, lhe impõe. Vejo as manifestações em Teerão, vejo os que morrem em nome da Pérsia e sinto o coração apertado. Sei bem que as revoluções são incertas e nunca, em tempo algum, trouxeram alguma coisa boa aos que as fazem; as revoluções são como Cronos, devoram sempre os seus filhos, são autofágicas e destruidoras. O regime dos Aiatolas conhecerá o seu fim (todos o conhecem). Queira Deus (Esse que nos é comum, da Pérsia à Lusitânia) que os seus filhos persas reencontrem o caminho da liberdade e do progresso! Que eles possam retomar o caminho (interrompido) iniciado por Ciro II! Que eles saibam honrar os seus avós (e nossos avós) e saibam cantar novos poemas nos túmulos de novos poetas!


Aqui deixo um grande documentário que retrata bem o que foi o reinado e o reino do último Xá da Pérsia. Como a maior parte das vezes tem sido (por essas paragens ainda mais), a monarquia é um agente de progresso, de prosperidade, inegável e incomparável. Veja-se o que era o Irão antes e o que é o Irão depois do Xá! Veja-se e compare-se. Veja-se e pese-se. Vejam-se os indicadores do Irão antes e compare-se com a situação catastrófica que hoje se vive. Veja-se a acção da Dinastia Pahlavi na modernização, na melhoria das condições de vida, e no fortalecimento do Irão, e compare-se com a política seguida pela "revolução dos mullah's". Parafraseando Ésquilo: Persas, vós que escutais, derramai lágrimas! Que a Pérsia volte a ser Pérsia!







*Rei dos Reis, Imperador.

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Vozes III

(...)

Um Adamastor atarefado a compor o azul – eis o que te envio!

(...)

terça-feira, 16 de junho de 2009

Da Pérsia








aquele cujo coração não vive senão do amor
não morrerá jamais.



Hâfiz





© Pormenor do túmulo de Hâfiz, em Shiraz, no Irão

segunda-feira, 15 de junho de 2009

domingo, 14 de junho de 2009

Como um rio









... Ninguém nosso amor detém ...

sexta-feira, 12 de junho de 2009

ADN da democracia

A The Economist publicou recentemente um Democracy Index relativo a 2006, ou seja, uma lista ordenada dos países mundiais organizados tendo em vista a qualidade das suas democracias (ou a ausência de uma e da outra). Cinco factores foram tidos em consideração para esta análise: a) O Processo Eleitoral e o Pluralismo; b) O Funcionamento do Governo; c) A Participação Política; d) A Cultura Política; e) As Liberdades Civis.


Portugal obteve o 19º lugar entre 167 países. Mas há algumas coisas que saltam à vista e são evidentes. Entre as dez melhores democracias mundiais, oito são europeias (se olharmos para as vinte primeiras o número sobe para dezasseis). Os primeiros lugares são ocupados pelos países nórdicos com a Suécia a liderar. O que também não deixa de ser curioso é que, dos dez primeiros países, sete são monarquias (e, em vinte, metade são monarquias). E é curioso por dois motivos: por um lado, as monarquias estão em muito menor número no mundo do que as repúblicas; por outro, a propaganda republicana sempre proclamou uma suposta superioridade de regime em face da forma monárquica, coisa que não se confirma se olharmos às altas pontuações que as monarquias obtêm, por exemplo no que às Liberdades Civis diz respeito: apenas oito países conseguem pontuação máxima, sendo que de entre esses, seis são monarquias!



Já as dez piores incluem nove repúblicas e uma monarquia. E se olharmos para as vinte piores, dezoito são repúblicas e apenas duas são monarquias (a Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos).


Coincidências? Não creio!




© Imagem aqui.

quinta-feira, 11 de junho de 2009

Maravilhas Portuguesas no Mundo

Finalmente realizou-se a cerimónia de revelação das 7 Maravilhas de Origem Portuguesa no Mundo. Já aqui falei no assunto, mas ainda e apenas pela rama. Continuo sem perceber qual o critério que regeu a escolha destas e não de outras. Continuo sem perceber porque é que o continente europeu ficou de fora das escolhas. Continuo sem perceber o porquê da expressão "de origem portuguesa", quando muitas delas são maravilhas portuguesas, ponto.

Aquilo a que se assistiu na transmissão da RTP foi mais uma lição do que não deve ser feito nestes casos. Para uma ocasião anunciada como épica, o que ficou foi um sabor a amadorismo, a pequenez, a espectáculozinho… E – o que é ainda mais surpreendente – tudo foi feito sem esboçar uma única ideia do que foi a expansão portuguesa no mundo, quais as suas causas e quais os seus efeitos, quais as suas similitudes com outros movimentos da História e quais as suas idiossincrasias (a meu ver, mais estas do que as outras). Nada. Apenas uma glorificação saloia e remediada do "génio português" (sem nunca esclarecer o que raio isso fosse) que, ao que parece, empreendeu os Descobrimentos e a Expansão portuguesa para o Ultramar para fazer "amigos", abraçar os "irmãos", promover a "diversidade", doar "sorrisos" e, já agora, deixar obras de arte espalhadas pelo mundo porque-tinham-uma-pancada-muito-grande-e-deu-lhes-p'rá-i-pah! Até tiveram oportunidade de passar um pequeno documentário sobre a presença portuguesa na Índia, com os nossos compatriotas a chorarem e a lamentarem a ausência lusitana nas terras goesas e do Guzarate – mas aquilo que a mim me deixou em pranto (haverá coisa mais louca do que chorarem por nós a milhares de quilómetros de distância, lá, abandonados à sua sorte, sem apoio, sem contacto, sem religio dos laços?) foi encarado com um sorriso e como uma excentricidade curiosa, tudo sem consequências, sem ser assinalado, sem ser minimamente enquadrado/meditado. Ou seja: tudo muito new age e politicamente correcto. Uma miséria confrangedora, foi o que foi.


Mesmo sabendo que em tempos de "voto telefónico" e "voto cibernáutico" isso vale o que vale, fiz a minha escolha (partindo apenas das opções que nos eram dadas). Esta foi alicerçada em alguns critérios, a saber: excepcionalidade no panorama da cultura portuguesa; rigor da composição; capacidade técnica e inovação; originalidade; grau de preservação; qualidade da obra; distribuição geográfica; importância para a cultura (portuguesa, local, mundial); importância na história da Expansão portuguesa; síntese de estilos. Para figurar entre as 7 Maravilhas de Origem Portuguesa no Mundo escolhi:





* Sé de Goa, em Goa, na Índia – um dos mais belos exemplos de uma catedral portuguesa no mundo, numa magnífica síntese entre a arte europeia/ocidental e a arte oriental/indiana. Um monumento hindo-português admirável pelas dimensões, pela decoração e talha primorosa, pelo enorme e magnífico altar-mor (o maior de todo o Oriente), pela simbiose perfeita entre os estilos e tradições lá presentes. Acresce ser a sede do Patriarcado das Índias Orientais, essa dignidade rara atribuída a apenas 5 Prelados (para além do próprio Papa) no Rito Latino da Igreja Católica Romana (um dos quais é o Patriarca de Lisboa, o que comprova a importância dos portugueses reconhecida pela Igreja!).


* Igreja de São Paulo, em Macau, na China – Esta igreja (ou mais propriamente, esta frontaria, uma vez que pouco mais resta da igreja) é, talvez, o mais belo exemplo de arquitectura sino-portuguesa existente e, certamente, o mais belo exemplo de uma igreja jesuítica de raiz portuguesa. Ícone por excelência da Cidade do Santo Nome de Deus de Macau é ainda o símbolo mais florescente da extraordinária empresa que foi a evangelização do Oriente. Nela encontram repouso e memória os Mártires do Japão; nela o programa iconográfico mostra a verdadeira universalidade da fé cristã. Em qualquer concurso o seu lugar e o seu valor estarão sempre assegurados!




* Colónia do Sacramento, no Uruguai – um belo exemplo de uma cidade portuguesa na América do Sul, símbolo do Império Luso-Americano que tanto alimentou a imaginação e o esforço da nossa história e dos nossos antepassados até ao primeiro quartel do século XIX (o Abade de Baçal chegou a ter o sonho utópico de uma América unida sob o estandarte da Cada de Bragança!). É um símbolo porque não é brasileira; é um símbolo porque foi construída frente a Buenos Aires para ser o sinal da soberania lusitana; é um símbolo porque, apesar das vicissitudes da história, conserva o carácter de uma antiga cidade portuguesa; é um símbolo porque é o mais visitado dos sítios turísticos do Uruguai; é um símbolo porque nos une a uma outra América, não brasileira, e nos confunde com os caminhos do tango. Esta foi, confesso, uma das coisas boas que este concurso me trouxe: deu-me a conhecer a Colónia do Sacramento!


* Fortaleza de Diu, Ilha de Diu, Índia – uma das maiores, mais belas e mais fortes fortalezas portuguesas no mundo. Belíssima com os seus muros vermelhos foi inexpugnável durante séculos o que atesta a qualidade da sua concepção, bem como a capacidade militar e tecnológica dos portugueses. Símbolo lusitano no Guzarate, é um símbolo do nosso modo de fazer: foi construída através da diplomacia e mantida face a todos os ataques pela força das armas e da valentia dos seus defensores. É um dos mais belos lugares que já vi (infelizmente ainda não presencialmente) no mundo.




* Ilha de Moçambique, em Moçambique – capital histórica dos territórios que viriam a formar Moçambique (e origem do seu nome), é uma das jóias mais raras e mais bem conseguidas da presença portuguesa no mundo. Em tempos vi um documentário sobre a antiga carreira dos hidroaviões do Império Britânico que, do Cairo à África do Sul uniam os territórios de Sua Majestade Britânica em África. A penúltima das suas paragens era precisamente na Ilha de Moçambique, considerada a jóia da viagem: uma cidade europeia, de arquitectura requintada, elegante, de palácios e igrejas de traça clássica, um magnífico hospital de traça colonial/imperial, praças e jardins com candeeiros de ferro forjado a contemplar o azul do Índico… Desde então nunca esquecerei a impressão que me causou ver essas imagens (já lá irão mais de 15 anos), e ainda hoje a considero das coisas que mais nos devem orgulhar enquanto portugueses. É (reconhecida e merecidamente) o maior e o melhor conjunto de monumentos e construções europeias (dizer portuguesas é uma redundância) em África anteriores ao século XIX e atesta 500 anos de relações entre o Índico e o Atlântico Norte, entre as religiões do norte (cristianismo e islamismo) e os cultos locais. É uma pérola, uma beleza e um monumento maior dos portugueses que muito mais se deveriam empenhar na sua reconstrução/preservação.


* Fortaleza de Mazagão, em Marrocos – ai a Mazagão do nosso imaginário infantil, uma das famosas praças africanas por onde tudo começou! A sua história está ligada ao Reino de Portugal no norte de África, mas também, à história do Brasil: fundada pelos portugueses na costa africana, foi para a colónia americana que os habitantes de Mazagão partiram em 1769, abandonando a cidade africana e fundando na Amazónia uma nova cidade denominada "Nova Mazagão". Exemplo da arquitectura militar lusitana no norte de África contruída em tempo recorde, foi das maiores cidades portuguesas por . Ostenta ainda hoje, não apenas as muralhas e baluartes, mas também duas das igrejas que construímos, o traçado urbano de origem portuguesa e uma belíssima e utilíssima cisterna-monumento, que só por si, valeria a classificação e o prémio!



* Convento de São Francisco e Ordem Terceira, em São Salvador da Baía, Brasil – se no Brasil muitas e inúmeras eram as possibilidades de monumentos para serem maravilhas portuguesas (começando na própria cidade de São Salvador, passando pelo Real Gabinete Português de Leitura (no Rio de Janeiro), e terminando no próprio país, o Brasil!), parece-me que este convento reúne muito do que de melhor se construiu (artisticamente falando) em terras sul-americanas. Para além de ficar situado naquela que foi a primeira capital portuguesa em terras de Vera Cruz (São Salvador da Baía de Todos-os-Santos), cidade berço e ícone da cultura brasileira (e de um certo luso-tropicalismo), este é um monumento onde se sintetiza o programa barroco português (muito especialmente na sua versão brasileira), como aliás bem refere Pedro Dias: "espaço e funcionalidade, esculturas abundantes e belas, e um vulcão de talhas refulgentes, azulejos de primeiríssima plana, mobiliário de ricas madeiras locais, sobrecarregando os estilos europeus em que se inspiraram os marceneiros, pinturas de bons mestres, tudo isto faz deste conjunto de edifícios um caso excepcional, mesmo numa cidade tão rica como Salvador da Baía"


Se destes monumentos, quatro foram escolhidos como vencedores, outros houve que figuraram na lista final e que não considerei excepcionais, a saber: Basílica do Bom Jesus de Goa, em Goa, Índia (possivelmente por ser onde jazem os restos mortais de São Francisco Xavier); Convento de São Francisco de Assis da Penitência, em Ouro Preto, Brasil (um dos belos exemplos do barroco luso-tropical); Cidade Velha de Santiago, em Santiago, Cabo Verde, e este – talvez – o caso mais surpreendente (só compreensível em face do sistema de votação). A Cidade Velha de Santiago (antiga Ribeira Grande) é efectivamente um lugar histórico importante na medida em que foi a primeira cidade construída pelos portugueses fora da Europa. Mas o grau de devastação que a reduz a um sítio arqueológico mais duas ou três peças (igrejas, fortaleza e pelourinho) pouco importantes arquitectonicamente, não me parece que possa constituir causa suficiente para esta classificação. Parece-me sim que é uma ajuda para que a candidatura da Cidade Velha a Património Mundial certificado pela UNESCO tenha mais hipóteses de ser aceite (e justamente aceite, refira-se! Apenas a comparação com outros monumentos candidatos – do qual salta à vista a Ilha de Moçambique, ou mesmo as ruínas de Baçaim, na Índia, ambos os lugares com muito mais património e concepção mais rebuscada – a diminuem).


Enfim: sete anos depois da extinção da Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses, perdeu-se mais uma hipótese (mais a mais uma oportunidade pop, tão ao gosto dos tempos que correm) de repensar a história e o contributo lusitano para a História do mundo. Outros virão!







© Sé Cadetral de Goa, São Paulo de Macau, Colónia do Sacramento, Fortaleza de Diu, Ilha de Moçambique, Fortaleza de Mazagão, Convento de São Francisco e Ordem Terceira


quarta-feira, 10 de junho de 2009

Cheira a Santos populares...

Lá vai a Bia que arranjou um par jeitoso,
É vendedor como ela ali para o em Formoso.
São dois amores, duas vidas tão singelas,
Enquanto ela vende flores o Chico vende cautelas.


Na Mouraria só falam do namorico
A Bia namora o Chico, as conversas são iguais.
Ai qualquer dia, Deus queira que isto não mude
Que a Senhora da Saúde vai ser pequena de mais.


O casamento já tem data marcada
Embora qualquer dos noivos tenha pouco mais que nada.
Vai ter a Bia, a festa que ela deseja,
Irá toda a Mouraria ver o casório na igreja.



António José



segunda-feira, 8 de junho de 2009

Os Lusíadas

Acabei de tomar consciência de como Portugal está – de uma certa maneira – morto. Completamente morto e esquecido. Levou-me a curiosidade a percorrer a imprensa online europeia e americana (nas línguas perceptíveis, bem entendido!) para perscrutar o que de nós por lá se diz. Quase nada. Quase nada. Quase nada. Nos principais jornais brasileiros (dando atenção aos resultados eleitorais em Espanha, na Itália, no Reino Unido, em França, na Alemanha, na Polónia), nem uma palavra. Nos principais jornais espanhóis, italianos, franceses, somos relegados para os fins de página, ao lado dos estónios, ou dos cipriotas. Nos jornais ingleses, diga-se em abono da verdade, pouco se fala do continente – mas eles sempre foram assim (e isso é algo que lhes admiro!). Apenas nos EUA há referências a Portugal (NATO dixit). Uma miséria. Uma miséria confrangedora e humilhante. Porque já fomos o centro da política europeia. Porque já fomos uma das potências europeias (e mundiais, a propósito!). Porque isto é o reflexo do estado (comatoso, certamente) da nossa diplomacia. Porque isto é o reflexo da falta de um rumo claro, de um objectivo nacional. Patriótico (o último que tivemos foi abandonado em 1975; desde então nada o veio substituir). Não existimos. Não somos lembrados. Não despertamos qualquer interesse. E isso, para alguém orgulhoso, é uma morte. Mais uma morte. Mais: uma morte!


Acho que vou pegar n' Os Lusíadas à procura de algum consolo. Quanto ainda tínhamos memória. Porque – se calhar – é tudo o que nos resta… Ou melhor: por enquanto é tudo o que nos resta.


domingo, 7 de junho de 2009

Diárias-notas de campanha

- Cada vez gosto menos de campanhas eleitorais com imenso espavento e circo. Cada vez as entendo menos. Porque não são necessárias. Porque ninguém fica mais esclarecido. Porque só servem como sorvedouro de fundos, como desperdício. Gosto sim deste tipo de campanha: barata, directa, eficaz. A campanha das ideias e dos ideais. Gosto da atitude, da disponibilidade para servir e para resolver os problemas (afinal, uma das raízes da política). Ao fim e ao cabo gosto de uma campanha que parta de uma simples questão: em que posso ajudar para transformar a sua vida?

- Apesar do cansaço evidente com a política e os políticos somos bem recebidos. Somos bem entendidos. Somos apoiados e gostados. Sem encenações: nota-se no olhar das pessoas, nota-se nos pequenos gestos, nota-se nas pequenas cumplicidades. Apesar de tudo a esperança ainda vive nos seus olhares. E nos nossos.


- Reforço a minha ideia da má imprensa que temos. Do mau jornalismo que temos. É chocante vermos como as coisas se processam nos bastidores. São sempre os mesmos que seguem, dia a dia, a campanha. Isso tira força às abordagens, consome-as por dentro. Ora são cúmplices ora são carrascos. Sendo a apregoada isenção jornalística uma das grandes balelas do tempo contemporâneo (nenhum olhar é isento), aquilo a que assistimos em Portugal é preocupante. Vejo uma peça sobre a campanha socialista em que tudo o que ficámos a saber do dia inteiro foi que Elisa Ferreira (a candidata a tudo que "só lá vai assinar o nome") se perdeu dos restantes colegas de campanha. E que ninguém sabia do seu paradeiro; das actividades, das propostas (a haver), do decorrer da campanha nem uma palavra – só o circo lhes interessa. Temos um jornalismo de polémica. Se as não há, inventam-se. Infelizmente é isso. Polemos no governo da polis. Nada mais. Infelizmente é pouco.


- Visitámos bons exemplos – o Lar da Misericórdia de Aveiro, a Quinta da Conraria (em Coimbra) da Associação de Paralisia Cerebral, a Adega Cooperativa de Almeirim. Que bom conhecê-los! Que pena que o resto não seja (no mínimo) assim!


- Oiço dizer uma coisa (a quem sabe) que me deixa a pensar: "as sondagens só servem para pôr os políticos a falar das sondagens". Pena é (acrescento eu) que continuamente falseiem a verdade sem qualquer consequência.


sábado, 6 de junho de 2009

sexta-feira, 5 de junho de 2009

Para além da razão

Pessoas há que nos inspiram confiança. Pessoas há que nos despertam admiração. Que nos fazem acreditar nas coisas. Que nos fazem vibrar com uma causa, com uma ideia, com um projecto. São seres (infelizmente) raros. Infelizmente escassos. Porque têm carisma. Porque são competentes. Porque têm uma força invisível que nos envolve e que nos motiva.

Posso, hoje, dizer que Nuno Melo é uma delas. Pela inteligência, pela argúcia, pela frontalidade que já lhe admirava. E agora pela sensibilidade, pela atenção aos mais fracos, pela disponibilidade, pela combatividade, pela coragem, pela determinação. Pela firmeza. Pela rectidão. Pela honestidade. Pela força das convicções. E tudo isto é (ainda) mais raro hoje em dia. E ainda mais raro nos seres políticos (infelizmente). Se antes já tinha o meu voto (a opção ideológica nunca foi outra), agora posso dizer que tem o meu voto mais - tem a minha admiração. Mas quando digo isto não falo da admiração que sentimos por uma grande filósofo, por um grande político, por um grande artista, por um grande médico. Falo da admiração que sentimos por um grande homem. Sem "h" maiúsculo porque dele não precisa. Um homem. Um homem sério. Um homem justo. O que é admirável. E motiva e dá esperança.


Acompanhar Nuno Melo na sua campanha fez-me acreditar ainda mais na necessidade do político. E da política. Da política como serviço, como arte da minúcia, como arte da resolução dos problemas da polis. Da política como exigência de justiça. Da política como justiça.


Acompanhar Nuno Melo na campanha faz-me acreditar na integridade do político. Na integridade possível em política. Faz-me acreditar na força da seriedade, do trabalho e da verdade.




Obrigado, pois. Obrigado, pois, pela grande lição. Obrigado, pois, pela disponibilidade. Obrigado, pois, pela dádiva. Obrigado.


...

sexta-feira, 29 de maio de 2009

Vozes II

- ...

- É… desequilibrante… como nós.

- ...

quarta-feira, 27 de maio de 2009

Canção das horas nº18





Obrigado C., por me ofereceres esta canção!

segunda-feira, 25 de maio de 2009

Cicatrizes






Beijo-te as cicatrizes
E contigo tomo as raízes do mundo







© Imagem
aqui.

sexta-feira, 22 de maio de 2009

quinta-feira, 21 de maio de 2009

In Memoriam JBC

Em homenagem e in memoriam de João Bénard da Costa. Porque Portugal fica mais pobre. Porque o cinema em Portugal perde um dos seus grandes estudiosos e amadores. Porque a memória cinematográfica portuguesa muito lhe deve. Porque, para mim, a Cinemateca tinha um rosto. Porque cresci com ele. Porque (nos tempos em que ainda lia o Público) ensinou-me a gostar e a vibrar com o que via nas telas. Porque me ensinou a magia e o fascínio e o encanto - o cinema. Porque estou certo que o seu além será um cinema paradiso



Palmas, pois! Obrigado e a_deus!






quarta-feira, 20 de maio de 2009

CSI Tuga

Leio, no DN, num artigo sobre o "CSI Tuga", um comentário do director do Laboratório Nacional da Polícia Científica, sobre as séries televisivas inspiradas no universo da investigação criminal (de que o CSI é, talvez, o exemplo mais famoso). Diz ele que "nós [eles lá no laboratório] não somos tão bonitos como eles, mas a principal diferença é a ideia de tempo", não só no que se refere ao tempo dos resultados das análises, mas também no que se refere aos dados a que os investigadores têm acesso: "ninguém acede a tanta informação com um simples toque de botão. Além disso, se qualquer polícia pudesse aceder a informação dessa forma, teríamos um big brother, uma sociedade sem o equilíbrio entre justiça e liberdade".



É curioso. Eu sempre que vejo essas séries televisivas (preferindo o CSI Las Vegas em relação às outras, as quais considero inferiores), à parte das considerações estéticas – que me eximo de comentar por não conhecer a realidade lusitana – penso sempre: bolas! Que bom seria se as nossas policias funcionassem assim! (descontando, claro está, a rapidez com que tudo acontece, coisa normal no universo televisivo). Mas lá está: eu acho mais importante apanhar os criminosos do que garantir supostos direitos da liberdade; é que a liberdade preserva-se e guarda-se impedindo que os dados pessoais caiam nas mãos erradas, sejam usados para fins ilegais, ou sirvam para perseguir os inocentes. Ou seja: a liberdade preserva-se pela via da estrita legalidade. E preserva-se apanhando, julgando e condenando os que infringem a lei. No extremo desta corrente deixaremos de prender os criminosos, porque é uma maçada e um atentado ao seu inalienável direito ao liberdade… Ah, pois é: já o fazemos!...

segunda-feira, 18 de maio de 2009

Fistful of love *




I was lying in my bed last night
Staring at a ceiling full of stars
When it suddenly hit me
I just have to let you know how I feel


We live together in a photograph of time
I look into your eyes
And the seas open up to me
I tell you I love you
I tell you I love you I tell you I love you
And I always will
And I always will And I always will

And I know that you can't tell me
And I know that you can't tell me

So I'm left to pick up
The hints, the little symbols of your devotion
So I'm left to pick up
The hints, the little symbols of your devotion

I feel your fists
And I know it's out of love
And I feel the whip
And I know it's out of love
I feel your burning eyes burning holes
Straight through my heart

It's out of love
It's out of love


I accept and I collect upon my body
The memories of your devotion

I accept and I collect upon my body
The memories of your devotion

I feel your fists
And I know it's out of love
And I feel the whip
And I know it's out of love
I feel your burning eyes burning holes
Straight through my heart

It's out of love It's out of love It's out of love
(Straight through my heart)
It's out of love
It's out of love
It's out of love
(Straight through my heart)



Antony and The Johnsons



(... I was lying in my bed last night. Staring at a ceiling full of stars. When it suddenly hit me. I just have to let you know how I feel. We live together in a photograph of time. I look into your eyes. And the seas open up to me. I tell you I love you. And I always will. And I know that you can't tell me. And I know that you can't tell me. So I'm left to pick up. The hints, the little symbols of your devotion. So I'm left to pick up. The hints, the little symbols of your devotion. I feel your fists. And I know it's out of love. And I feel the whip. And I know it's out of love. I feel your burning eyes burning holes. Straight through my heart. It's out of love. It's out of love. I accept and I collect upon my body. The memories of your devotion. I accept and I collect upon my body. The memories of your devotion. I feel your fists. And I know it's out of love. And I feel the whip. And I know it's out of love. I feel your burning eyes burning holes. Straight through my heart. It's out of love. It's out of love...)



* (Porque estava lá. Porque estamos cá.) Oh give it to me! Oh give it to me! You know i want it... You know i want it... Oh poison me! Oh poison me! You know i want it... You know i want it...